Referências para o estudo bíblico

Referências para o estudo bíblico

Um auxílio para professores de escola dominical e amigos da Palavra de Deus.

DESCRIÇÃO DAS HISTÓRIAS DA BÍBLIA

* Sugere-se que os versículos indicados com asteriscos sejam decorados.

[As citações entre colchetes requerem um maior conhecimento bíblico, e podem ser deixadas de lado conforme a idade das crianças).

 

51. A Grande Ceia

  1. A Cura do Hidrópico: Lc 14:1-6.
  2. Admoestação à humildade: v. 7-14
  3. Da grande ceia: v. 15-24.
  4. De Seguir ao Senhor Jesus: v. 25-27.

Explicação e ensinamentos:

Muitas vezes, os fariseus faziam banquetes abundantes nos dias de sábado, mas ao mesmo tempo eram insensíveis para com os pobres, em se tratando de precisarem de ajuda num sábado. Quão egoístas, e contrários ao sentimento de Deus!

  1. "Um dos principais dos Fariseus", notável pela sua posição e pelo conhecimento, convidara o Senhor à mesa. O convite não foi feito por amor, mas para apanhar o Senhor nas suas palavras. Talvez até fosse com essa intenção que se promoveu a presença do hidrópico. a Senhor conhece a maldade deles, e pergunta se é lícito curar no sábado. Mas, por que não lhe deram resposta? Se dissessem "Sim", teriam justificado o Senhor, que já havia curado muitas vezes no sábado; se respondessem: "Não", teriam demonstrado sua insensibilidade para com o enfermo. a Senhor, pois, curou o enfermo, e dirigiu-­lhes uma nova pergunta, deixando­-os confusos (v. 5-6).
  2. Nos versos 7-14 o Senhor censura a arrogância dos fariseus ao notar como escolhiam os primeiros assentos, os lugares de honra, e admoesta à humildade, não ambicionando coisas altas, que é o que convém perante Deus. O Senhor admoesta também ao amor, que não procura a honra neste mundo, mas que se compadece do pobre e do aleijado, que não têm com o que recompensar. Quem assim procede, embora desprezado aqui no mundo, achará sua recompensa na ressurreição dos justos (* Ap 22: 12).

Um dos convidados, procurando dar um rumo mais agradável ao sério assunto abordado pelo Senhor, voltou a atenção para a mesa no Reino Milenário, da qual, segundo a opinião dele, todos os israelitas iriam participar.

  1. Mas na parábola que segue o Senhor explica quem participa e quem é excluído do Reino. Deus convidou primeiramente a Israel para as bênçãos do Reino. Quem foi incumbido de trazer os convidados? Jesus, o Messias; é por essa razão que o Senhor chama aquela ceia de: "A minha ceia" (v. 24; * Is 55:1-3). Quem é "o servo", que convida? Certamente o Espírito Santo. [Em Mt 22, que é uma figura do Reino Milenário de Cristo em Israel, vemos diversos servos: os discípulos e os apóstolos. (v.3.4)]. Aqui em Lucas 14, onde está representado o banquete do evangelho, válido para todos, é o Espírito Santo quem convida, dizendo: "Vinde, que tudo já está preparado!" A redenção está consumada.

Qual é, no entanto, a conduta dos convidados de Israel, uma vez que foi a eles que chegou primeiro o evangelho? (* Lc 24:47; * Rm 1: 16). Eles não vêm, por causa de

  1. Bens terrestres (compra de um campo);
  2. Multiplicação dos bens (cinco juntas de Bois) e
  3. Por causa dos desejos e prazeres deste mundo. O convite passa a ser para os publicanos e pecadores (pobres, aleijados, mancos e cegos) entre os judeus (pois estão nas ruas e bairros da cidade-v. 21), e finalmente (v.22 e 23) aos pobres nos caminhos e nos cercados, isto é, aos povos fora de Israel (os gentios). (* Is 55:5).
  4. Os judeus, pelo simples fatos de serem judeus, não têm parte no Reino. Quem quiser entrar no Reino terá de abandonar tudo, seguir ao Senhor Jesus, e compartilhar com Ele a rejeição (v. 25-27). A natureza humana considera uma perda abandonar o mundo e seguir ao Senhor, mas em compensação recebemos salvação, vida eterna, sim, ao próprio Senhor.

 

52. Parábola da Ovelha Perdida e da Dracma Perdida

  1. Da ovelha perdida: Lc 15:1-7.
  2. Da dracma perdida: v.8-10.

Explicação e ensinamentos:

"Os publicanos", muitas vezes desonestos, e os "pecadores", transgressores da lei, eram uma abominação para os fariseus; mas muitos deles estavam arrependidos, desejando salvação. Eles iam ao Salvador para receber graça, ao passo que os fariseus, justos aos seus próprios olhos, desprezavam tanto a graça como o Senhor.

O Senhor Jesus demonstra em três magníficas parábolas, quanto prazer Deus tem em salvar o pecador perdido, concedendo-lhe graça. Em Lc 14, temos visto como Deus preparou "Um grande banquete" para o pobre perdido. Aqui, em Lc 15, vemos com que perseverança os convidados são buscados em sua miséria. Vemos, também, com quanto amor são acolhidos e enriquecidos. Passemos para as duas primeiras parábolas!

O pastor busca a ovelha perdida, com toda perseverança, pois é a ovelha d'Ele ("Minha ovelha": v.6). Não Lhe é bastante que possua ainda 99 ovelhas. Ele quer aquela que Lhe pertence, que Ele ama. Ele quer recuperar e salvar a perdida. (Explique às crianças as dificuldades que um pastor enfrenta: tem que passar por vales, mato denso, espinhos etc... O termo "deserto" significa aqui uma pastagem deserta). Quem é esse fiel pastor? O Senhor Jesus. Ele morreu pelo rebanho. Desceu ao lugar em que este se encontrava, entrou em sua miséria e na morte(* Jo 10:11). Mas Ele vai também após a alma individual. Inclusive da criança. Ele a chama, Ele a atrai.

A ovelha não é um animal inteligente, e por si mesmo nunca encontra o caminho de volta, quando se perde. O que faz o pastor? Ele a procura até encontrá-la. Havendo-a encontrado, ele a põe sobre o ombro, gostoso, sem punição, sem reclamação, e a leva para casa. É sempre Ele quem está agindo: tanto ao buscar quanto ao levá-la para casa. Dessa mesma maneira o Senhor há de suster e suportar os seus, até chegarem ao céu (* Jo 10:27.28). Grande é a alegria no céu sobre cada ovelha achada, agora e eternamente. Os "noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" são os fariseus, aqueles que são justos aos seus próprios olhos.

Na segunda parábola, temos uma mulher, com uma candeia, procurando uma moeda de prata, que perdera. O dinheiro estava caído no pó e na sujeira, e ali ficou irreconhecível. O brilho e o reflexo metálico tinham desaparecido e a gravação (a efígie do príncipe) não mais era visível. Assim, acontece com o homem imortal, que foi criado à imagem de Deus:

Ele se encontra a serviço do pecado, no poder de Satanás. A imagem de Deus, do qual foi feito à semelhança, não mais é visível. Apesar disso, o homem Lhe é tão valioso. Deus, o Espírito Santo, presente entre a cristandade (do que a candeia na mão da mulher é uma figura) se esforça sobremaneira para iluminar o homem, e removê-lo de seu estado de morte espiritual. O Espírito Santo usa a Palavra de Deus para lhe dar vida. Uma pregação, a leitura da Bíblia, folhetos, etc. são meios pelos quais procura atingir o coração, mas Ele também lança mão de circunstâncias, (como doença, morte de amigos ou parentes, sonhos, etc.) para despertar o coração (Já 33: 14-29).

Também, nesta parábola, vemos aquela mesma grande alegria de Deus pela salvação de uma alma. Aqui é dito que "há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende" (v.10). Note que isso quer dizer "diante da presença deles", ou seja, é Deus próprio que Se regozija!

 

53. O filho Pródigo Lc 15:11-32

  1. O Filho dá as costas ao lar paterno e desperdiça a sua herança em terra longínqua: v.11-13.
  2. As duras conseqüências e o inútil esforço para restabelecer­-se com recursos próprios: v.14-16.
  3. O despertar da consciência e a conversão do filho: v. 17-20a.
  4. A amorosa recepção e a grande alegria no lar paterno: v.20-24.
  5. A amargurado filho mais velho: v.25-32.

 

(Introdução: Nas duas parábolas anteriores, foi demonstrado o empenho do Senhor Jesus, o Bom Pastor, e a silenciosa atuação do Espírito Santo. Nesta terceira parábola, veremos o infinito amor de Deus, o Pai, que acolhe o filho que regressa, ou seja, o pecador que cai em si e se converte. É, portanto, o Deus triuno que em Sua graça busca e salva o pecador. Ao mesmo tempo, nessa terceira parábola é desvendado um aspecto novo da verdade: a ovelha teve de esperar inativa, até que o pastor a procurasse na mata e a salvasse; a moeda de prata estava imóvel entre a sujeira, até que a mulher, empregando a luz, a procurou e achou.

Talvez alguém possa perguntar: a graça faz tudo, e o pecador perdido, não faz nada por sua salvação? Esta parábola dá a resposta: o pecador precisa cair em si e se converter, retornar de seu caminho.]

Explicação e ensinamentos:

O filho tinha uma vida confortável no seu lar, e sempre teria tido. Mas um dia o inimigo suscita dúvidas no coração a respeito do amor do Pai e quanto à felicidade no lar. Ao mesmo tempo o desejo de estar independente lhe diz que lá fora é melhor e mais bonito. É como a história do primeiro homem, no paraíso, onde estava feliz. Satanás venceu: Adão caiu.

Longe do lar paterno, o filho vivia como hoje o homem caído vive no mundo, na concupiscência dos olhos, nos desejos da carne e na soberba da vida. O homem agora procura a sua satisfação e sua felicidade em coisas terrenas, carnais e diabólicas.

Assim como o filho, que logo começou a padecer necessidade, assim também o homem, hoje, padece de doenças físicas e espirituais, pobreza e todo o tipo de miséria. Lemos que "Ele começou a padecer necessidades”. A necessidade, a miséria, embora comece aqui na terra, será extrema na eternidade.

Mas, o filho não voltou logo ao lar paterno quando começou a padecer necessidades. Em seu orgulho, primeiramente tentou se acudira si mesmo. Assim, também, o pecador, quando se dá conta da sua culpa, não se arrepende imediatamente. Ele tenta pagar a culpa sozinho, procura rebaixa­-Ia, melhorar a si mesmo, mas não consegue. Falta-lhe o poder para isso. O coração está enfermo e corrompido pelo pecado. O filho pródigo, por fim, foi parar com os porcos. Como decaiu! Quem teria reconhecido neste esfarrapado jovem, o filho de um homem rico? Ele padecia fome, e não lhe davam nem sequer comida de porcos. Quão decaído está também o homem em seus pecados! Pode-se ainda notar que foi criado à imagem de Deus, destinado a ser filho do eterno, bondoso e Santo Deus!? (* Ef 2:8; *Tt 3:3).

 

O despertar da consciência e a conversão:

Finalmente o coração e a consciência caem em si - na hora da aflição! O Filho começou a meditar sobre a felicidade no rico lar paterno, e que ele havia menosprezado. O mesmo já tem ocorrido com milhares de corações rebeldes: Deus, por meio da necessidade ou sofrimentos, faz despertar neles um anseio pela paz com Deus. O Filho pródigo não somente disse: "Levantar­-me-ei", mas lemos também: "E, levantando-se foi para o seu pai". Não foi um mero propósito sem cumprimento, como acontece em muitos casos, mas uma verdadeira angústia da alma e uma conversão.

Descreva o regresso do filho pródigo que, hesitante, miserável, de passos lentos se aproxima do rico lar paterno. Talvez ele estivesse meditando em como seria a recepção; o que ele iria dizer; por acaso não o mandariam embora?

Comente também a tristeza do pai, durante todo esse tempo; o seu anseio pelo filho perdido. Como diariamente ele espreitava à espera do filho, talvez até subindo ao terraço, para ver ao longe.

 

A calorosa e amável recepção:

Finalmente o olho do pai descobre o filho, que está retomando. A toda pressa o pai vai ao encontro dele. O filho se aproxima vagarosamente, mas o pai se apressa e se lhe lança ao pescoço, e o beija, assim como está: todo em farrapos. Ele está miserável, uma verdadeira lástima, e o coração quebrantado. O filho inicia a confissão que propusera:

"Pai", ele diz, etc... Mas a última parte, aquela que dizia: "Faze­-me como um dos teus jornaleiros", ele não ousou falar. Ele sentia que seu pai, cujo coração, cuja graça e amor ele somente estava conhecendo agora, jamais permitiria que ele se tornasse um empregado. Ou ele seria acolhido como filho, ou não seria acolhido. Assim Deus acolhe o pecador em plena graça e amor. Nós não vemos nenhuma palavra de censura, uma vez que o filho voltou e condenou totalmente sua própria conduta.

Conquanto o pai tenha abraçado e beijado o filho arrependido) ele não pode, contudo, recebê-lo em casa assim como este está. Ele precisa estar condizente com a casa paterna. Os farrapos que vestem um escravo do pecado já não podem continuar a cobri-lo. A melhor e mais nobre veste da casa é trazida para que se vista com ela. Com certeza esta veste é uma figura da justiça de Deus, que o crente possui em Cristo (* 2 Co 5:21; Is 61:10). Também é posto um anel de ouro na sua mão, uma figura de ligação e unidade, de comunhão (* 1 Jo 1 :3) e ainda mais sandálias, que vêm a calçar seus pés desnudos, e que são uma figura de força e firmeza para caminhar e testemunhar para Deus (Ef 6:15); Só assim o filho pródigo está condizente para a recepção na casa paterna. E desse mesmo modo que Deus, o Pai, por meio do Senhor Jesus, toma o pecador apto para a herança celestial. (* Cl 1:12-14). Mataram o bezerro cevado mantido à disposição, e que lembra as bênçãos em Cristo, que segundo o propósito de Deus viriam a ser a parte dos redimidos. Começa uma festa com música e danças. Lemos aí: "E começaram a alegrar-se" (v.24). A alegria da salvação começa já na terra, do mesmo modo como a necessidade e a miséria do pecador, também já se iniciam aquém do túmulo (v. 14). A plena felicidade do crente é, porém, somente no céu, na glória eterna do lar paternal, onde o crente estará para sempre com o Senhor (1 Ts 4:17).

 

A amargurado filho mais velho, (contraste entre Lei e Graça):

Enquanto todos se alegram na casa do pai, o irmão mais velho está indignado. Este é uma figura dos judeus (Ex 4:22), a saber, debaixo da lei. Debaixo da lei não havia alegria (Lc 15:29). O homem atribuía a si um mérito, contudo não era realmente justo perante Deus (Rm 3:20; Gl 3:11). E somente a Graça de Deus que concede justiça e bem- -aventurança (Rm 4:6-8), paz e alegria. (* Rm 5:1 e *Rm 14:7). Como é duro o coração do filho mais velho, em sua justiça própria! (Compare com Lc 18: 11-o fariseu no templo). Ele próprio não goza de alegria, e está indignado com a alegria do pai e do irmão que foi salvo. Ele até censura o pai, duramente, e não se refere ao seu irmão na qualidade de "irmão", mas diz: "Este teu filho". Quão difícil é salvar uma pessoa justa aos seus próprios olhos! Tal pessoa não somente desconhece o próprio coração, mas também o amor e a santidade de Deus.

O filho pródigo tipifica cada pecador que é salvo pela Graça, mas também é figura das nações gentias: Elas estavam longe (Ef 2:13), enquanto os judeus (dos quais ficou dito acima que, referente ao caráter da auto-­justiça, o "filho mais velho" era uma figura) estavam perto (Ef 2: 17). Assim os judeus se indignavam pela conversão e salvação dos gentios e se opunham, por exemplo, ao trabalho e à pregação do apóstolo Paulo, que era "o apóstolo dos gentios" (At22:21-22, 1 Ts2:14­16).

Vemos, então, que essas três parábolas, juntas mostram a operação do Deus triuno, concorrendo para a conversão e salvação do homem perdido (compare com a introdução, pg. 280).

 

54. O mordomo infiel

  1. O sábio procedimento do mordomo: Lc 16:1-7.
  2. A sentença do seu senhor: v.8-13.

Explicação e Ensinamentos:

Mencione alguns mordomos fiéis do Velho Testamento, como Elieser, José e outros. - Qual era o dever deles? O mordomo(1) de nossa parábola, porém, foi injusto e infiel. Ele, por essa razão, não continuaria no cargo. Quando o seu senhor o avisa que será demitido, ele aproveita o pouco tempo que lhe resta no cargo, para tratar do seu futuro.

Essa sabedoria, pois, de que o mordomo fez uso (não a sua injustiça), é louvada pelo seu senhor (este "senhor" do verso 8 não é o Senhor Jesus).(2) O mordomo não estava acostumado a trabalhar, talvez até tinha preguiça; e para mendigar, tinha vergonha. O que fez então visa cultivar a simpatia daqueles que arrendavam as terras que administrava ("os devedores"):

Ele os chama e lhes propõe condições muito mais favoráveis para o arrendamento em safras futuras. Como recompensa disso, assim raciocina o mordomo, esses devedores o receberiam mais tarde em suas casas.

 

Aplicação:

O "Senhor Rico" é Deus, e o homem (especialmente Israel) é o mordomo. "Os Bens" são as coisas desta terra. Em virtude da infidelidade do homem (desde a queda de Adão), Deus lhe anunciou sua demissão, mas por um pouco de tempo o homem ainda está na posse dos bens. Será que ele agora voltará o seu coração e os seus anseios para o porvir, deixando de lado as coisas visíveis, os bens fúteis, o mamom injusto? Deus usa estes termos justamente porque há tanto pecado e culpa envolvidos com o dinheiro. Se o pecado não existisse no mundo, certamente o dinheiro também não existiria. O crente deveria, no entanto, aproveitar o dinheiro dentro dos planos de Deus e para o bem dos outros. Onde há fé verdadeira e amor divino, o coração está livre de ganância, de amor ao dinheiro e ao mundo, ali também há compaixão e atenção para a necessidade do pobre. Quem ama o dinheiro e as coisas transitórias, não acha prazer nos tesouros e bênçãos divinas e eternas. Deus não dá aquilo que é "verdadeiro" àquele que tem prazer nos tesouros e riquezas passageiras. O Senhor disse aos discípulos: "Se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará, o que é vosso?" (* Lc 16:10-13). "O alheio”, para os crentes, significa aquilo que é terreno: posses e bens; "O vosso", são bens e bênçãos espirituais e celestiais. Estas são as "verdadeiras riquezas". Nenhum servo pode servir a dois senhores. Tampouco, e menos ainda, um coração humano pode buscar agradar e servir a Deus, e ao mesmo tempo procurar dinheiro e bens mundanos, para possuir e gozar deles.

A próxima história, a do homem rico, neste mesmo capítulo (Lc 16: 19-31), que vivia todos os dias regalada e esplendidamente, só pensava em si, e não se importava com Deus e Sua obra, nem com o Seu povo, nem com o pobre Lázaro e, portanto, não era um mordomo fiel, mostra-nos qual é o fim e a parte eterna de tal pessoa. Deus não pôde revelar a Sua salvação a um coração que tanto amava o dinheiro e o luxo. Esse homem não aproveitou para conquistar amigos por meio dessas suas riquezas injustas. Quando, então, o seu "mamom" acabou (v. 9), isto é, quando a morte chegou, onde o dinheiro não mais tinha valor, Deus não o pôde acolher nos tabernáculos eternos. Ao centurião Cornélio (At- 10), porém, que tinha prazer em ajudar os pobres, Deus confiou as riquezas "verdadeiras". A ele foi apresentado o evangelho, o qual ele aceitou pela fé, e pelo qual também foi salvo. Nem suas orações, nem as esmolas podiam salvá-lo e fazê-lo feliz (compare At 10:2com 11:14). Não é pelas obras que a pessoa é justificada (Rm 3:20; Ef2:8-9). Mas daqueles que abençoou com bens materiais, Deus espera que sejam os Seus mordomos; daqueles que já conhecem a sua graça, espera que "façam o bem e sejam ricos

em boas obras" (* 1 Tm 5:17­-19). Aqui (v. 9), o ensino do Senhor Jesus não é como chegar ao céu por meio de esmolas, mas como a atenção e o coração de alguém, que queira ir ao céu, precisam necessariamente estar voltados para a eternidade.

(1) o Mordomo é um Administrador de Bens.
(2) Aquilo que o mordomo estava fazendo agora (v. 5-7) com certeza não foi injusto, e nem para prejuízo do seu senhor, do contrário não teria sido louvado, mas preso e castigado. Sua proposta não consistia num desconto feito sobre o débito existente, mas de uma redução da comissão para futuros arrendamentos, importância essa que caberia quase toda ao mordomo. O mordomo pagava ao seu senhor em uma cota única, anual, fixa, daquilo que recebia como comissão do arrendamento. O que sobrava (e que consistia em produtos como azeite, trigo, etc.), geralmente pertencia a ele, digo, aos mordomos. Ele tinha poder para aumentar ou diminuir o valor do arrendamento. Talvez o mordomo até então havia cobrado demais, pelo que o arrendatários defraudavam o valor da colheita, o que indiretamente estaria prejudicando o seu Senhor. Esta talvez fosse a causa da sua demissão.

 

55) O Rico e Lázaro

  1. Os dois homens nesse mundo: Lucas 16: 19-22.
  2. Os dois homens no além: versos 23-31.

Explicação e ensinamentos:

Considere novamente aquilo que o Senhor havia dito no fim da parábola anterior (versos 9-13). O que os fariseus pensavam disso? Leia o verso 14! E porque ridicularizavam o Senhor? Porque eram avarentos, amavam o dinheiro e é por isso que o ensino de renegar o que é do mundo (as riquezas) lhes parecia desprezível. No conceito dos judeus os bens eram um sinal de estarem no favor de Deus, e a pobreza um juízo. Mas quando se trata da salvação da alma, da bem-aventurança eterna, a riqueza se tem tomado justamente um empecilho para o homem caído. Leia Marcos 10:23-25! É o mesmo que também vemos na história do homem rico. Enquanto usufruía de seus bens não pensava no futuro, e até mesmo cerrou os seus olhos para não ver a aflição de seu próximo e não considerar o que Deus exigia de sua alma. Não se importava com Deus nem com a eternidade. No registro de seus pecados, aparentemente, não constou nenhuma transgressão "grave", mas bastou o pecado de sua omissão para levá-lo ao Inferno (*Tiago 4: 17). No gozo do presente, tal como Esaú, ele desprezou aquilo que Deus queria lhe dar para a eternidade; escolheu o mundo e não o céu, e por isso, com a morte, perdeu os dois. A morte lhe roubou tudo o que tinha aqui, e o céu... ele também não ganhou! (Salmo 49:14 e *Mateus 16:26). Na parábola anterior o mordomo tratou do futuro, o rico aqui não. E semelhantemente ao rico agiram os soberanos de Israel, especialmente os fariseus, que amavam o dinheiro.

A situação de Lázaro era diferente. Seu nome quer dizer:

"Deus é minha ajuda". Ele era pobre e doente, não tinha nada aqui na Terra, mas confiava em Deus. Qual o fim que os dois tiveram? De Lázaro lemos que foi "levado pelos anjos para o seio de Abraão". Aqui a bem-aventurança é descrita na figura de um banquete em que Lázaro recebeu um lugar de honra junto ao seio de Abraão, o "pai dos crentes". Depois de sofrer por um pouco aqui na Terra, ele é, finalmente, eternamente consolado. Que prêmio! (*Fp 1:21; Rm 8:18; 2 Co 4:17-18)

O rico morreu e foi sepultado, possivelmente com muitas honras, (ao passo que do funeral de Lázaro nem é feito menção), ma!; no além sua alma despertou no tormento da eternidade. [O texto original da Bíblia cita o lugar descrito aqui como "Hades", e não "Inferno" como em Marcos 9:43.45.47. "Hades" é simplesmente o "reino dos mortos". É o lugar em que permanecem as almas dos que morreram, e de onde aguardam a ressurreição dos corpos (N. T.: os ímpios estão ali separados dos justos). Nesse lugar os ímpios já estão sofrendo, ao passo que a porção dos justos ali é o Paraíso]. Ao longe o rico pôde ver a Abraão, que aliás também foi rico aqui na Terra, mas que vivia por fé e se considerava estrangeiro aqui, e foi chamado "amigo de Deus" (Hb 11:9; Tg 2:23). Junto a Abraão vê a Lázaro no gozo de sua bem-aventurança. Mas ele próprio está em tormentos, e eis que aqui se lhe abrem os olhos: enquanto estava na Terra, jamais elevou os seus olhos para Deus. Em vão implora por alívio de seus sofrimentos e para que Lázaro seja enviado a seus irmãos que ainda estão na terra. Da resposta de Abraão aprendemos também a importância da Palavra de Deus, pois diz que "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir" etc. Notemos que nem mesmo o testemunho de alguém que ressuscitou dentre os mortos tem o valor da Palavra de Deus. Assim sendo, depois da Sua ressurreição, o Senhor Jesus também não mais apareceu aos judeus que não quiseram crer na Palavra de Deus.

Como nos ensina esta história!

Aqui não aprendemos como chegar ao céu, mas que o mais importante aqui nesta terra é tratar do além e da eternidade, e estar preparado. Esta história também confirma e esclarece a lição do "mordomo infiel" (*Lc 16:25; SI 37:35-38).