Referências para o estudo bíblico

Referências para o estudo bíblico

Um auxilio para professores de escola dominical e amigos da Palavra de Deus.

DESCRIÇÃO DAS HISTÓRIAS DA BÍBLIA

* Sugere-se que os versículos indicados com asteriscos (*) sejam decorados

 

74. a) A Ceia Pascal (conteúdo para vários estudos)

  1. O último prenúncio de Seus sofrimentos: Mateus 26: 1-5.
  2. Os preparativos para a páscoa: Lucas 22:7-13.
  3. O lavar dos pés: João 13:2-17.
  4. O traidor é indicado e se afasta: João 13:21-30.
  5. O novo mandamento: João 13:31-35.

Explicação e ensinamentos:

  1. Depois de uma longa conversa com seus discípulos, em Mateus 24 e 25, em que o Senhor Jesus lhes respondeu quando viria o juízo sobre Jerusalém e também acerca dos sinais de Sua vinda (Mt 24:2-3), Ele agora dirige a atenção de seus discípulos à celebração da páscoa que se aproximava, bem como a Seus sofrimentos e morte (Mt 26:1-2). A celebração da páscoa, introduzida em Gênesis 12, recordava a redenção que Deus dera ao povo de Israel libertando-o da escravidão no Egito. O cordeiro pascal era um tipo de Cristo, pois, tal como o cordeiro ia ao fogo, 1 assim Cristo se submeteu ao santo e justo juízo de Deus; e, sob a proteção de seu sangue (aplicado às portas), Israel ficou seguro do juízo divino que assolou aquela terra. Era, pois, o desígnio de Deus que o Senhor Jesus morresse por ocasião da festa da páscoa, pois Ele foi o último e o verdadeiro cordeiro pascal(*Jo 1:29; *1 C05:7). Este desígnio o Senhor está aqui compartilhando com os discípulos, e a seguir já logo vemos os principais de Israel deliberando a esse respeito (versos 3-4). Quão tremendo é notarmos que Deus está acima de tudo! Ele tinha esse propósito, e o conselho dos principais delibera executá-lo; em sua maldade os homens nada mais fazem que cumprir os planos de Deus! (At 4:27-28). Embora a decisão tenha sido não matar ao Senhor durante a festa, fracas­saram, pois isso não era conforme o desígnio de Deus (*Is 8: 10).

1 - Nas Escrituras o fogo geralmente representa o juízo de Deus.

  1. Os preparativos para a páscoa

Mateus 26: 17.

No primeiro dia dos pães as mos (a quinta-feira), em que todo o ferment02 devia ser tirado das casas (Êx. 12:15), o cordeiro pascal de cada família era imolado no templo, e às 18:00 horas começava-se a comê-lo nas casas. Junto com seus discípulos, o Senhor Jesus também formava como que uma família, e por isso foi fiel à Palavra de Deus celebrando com eles a páscoa; Ele até mesmo determinou um salão para a celebração. O proprietário daquele aposento certamente era um discípulo do Senhor em oculto: Ainda que rejeitado, o Senhor está acima de tudo: sabe de tudo, e tudo Lhe pertence (lembre também Lc 19:28-35). Chegou, porém, o momento em que o coração do Senhor Jesus está profundamente comovido; a penosa hora de Seu sacrifício não está muito longe, e é pela última vez (antes da cruz) que Ele está junto com os seus. Ele tem muito a lhes revelar: "Tenho desejado ansiosamente...” (Lc 22:15). E começa por levar-lhes os pés, legando-lhes um ensino de relevante importância para a vida prática deles; e depois, após a ceia, introduz a Ceia Memorial para anunciarem a Sua morte e recordar a Sua pessoa.

  1. O lavar dos pés João 13.

Era um costume dos judeus que antes da refeição principal se lavassem os pés aos presentes. Quem fazia isto era um escravo ou o inferior dentre os presentes. Mas nesta última noite quem exerce este serviço é o próprio Senhor Jesus. Que condescendência e que humilhação para o Filho de Deus, o Senhor da Glória! O que Ele queria mostrar aos discípulos servindo-os assim? Ele queria dar­-Ihes um exemplo de Sua humildade, mas principalmente de Sua atuação como intercessor (como advogado - 1 Jo 2:1) a favor deles quando estivesse acima na Glória e os seus ainda caminhando por este mundo impuro. Com este serviço queria, igualmente, deixar-lhes um exemplo para lembrar-lhes que, enquanto aqui na Terra, deviam servir uns aos outros (Jo 13:12­17).

2- Nas Escrituras o fermento representa o mal, o pecado.

Embora essa ocasião fosse antes de Sua morte, o Senhor já Se contemplava após a cruz, como se a obra da redenção já tivesse sido consumada. Ele tinha servido os seus até a Sua morte. Segundo Suas próprias palavras, não tinha vindo "para ser servido, mas para servir" (*Mt 20:28; Fp 2:5-8). O Senhor Jesus não quis renunciar a esta posição de servo dos seus, inclusive nem mesmo após Sua morte, e assim também o fará pela eternidade (leia tx 21:5-6; Lc 12:37).

Mas contemplemos o que se passou ao lavar Ele os pés aos discípulos: o Senhor levantou-Se da ceia, e com isso deixou para trás - por assim dizer - os discípulos junto à mesa; em figura: partiu do meio deles. A seguir cingiu-se para o serviço. A toalha de linh03 representa atos de justiça, os quais adornam um caminhar em santidade. [Em contraste com o ouro, que figura a divina justiça, que Ele nos adquiriu na cruz. Compare Ap 19:8 com Ap 1:13 e 3:18 - e lembre que o propiciatório também era de ouro: t.x 37:6; Rm 3:25). A água usada para lavar os pés é figura da Palavra de Deus, a qual nos purifica do mal (Ef 5:26).

Do modo como outrora o Senhor lavou os pés aos discípulos, assim hoje também purifica os crentes, visto que estes, ao caminhar por este mundo mau, ainda sujam seus pés e se contaminam. É certo que a Escritura conclama os filhos de Deus a não pecar (1 Jo 2: 1), porém mesmo assim acontece de eles se contaminarem, seja por não terem vigiado o suficiente ou devido à astúcia do inimigo. E então? Perder-se-ão? Deus os lançaria fora, eternamente, assim como expulsou do Paraíso aos primeiros homens depois que pecaram? Ou será que precisamos nos converter novamente e nascer de novo mais uma vez? Não!

3 -  Segundo o texto original.
As citações entre colchetes [ ] requerem um maior conhecimento bíblico, e podem ser deixadas de lado conforme a idade das crianças.

Quando um crente peca, isto não compromete a sua salvação, mas sim prejudica sua comunhão prática com Deus, o Pai e o Filho, a qual é então interrompida (1 Jo 1 :3). E quais seriam os resultados desta interrupção de nossa comunhão, caso Deus não tivesse feito provisão para restabelecer os crentes? O Pastor jamais iria atrás da ovelha que se desviou, e esta jamais seria purificada e santificada. Mas..., graças a Deus! "Temos Advogado (um intercessor) junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo" (*1 Jo 2:1).

No que consiste Sua atuação?

Ele intercede a favor dos seus e os purifica valendo-Se de Sua Palavra, a qual traz à luz todo o mal, e daí, por meio de Seu Espírito, compele-os a confessar suas faltas. Quando um se curva ante a Palavra e confessa o pecado, então isso é o fruto da intercessão do Senhor Jesus, o advogado que temos junto ao Pai; e Deus, por Sua vez, está desejoso e pronto a perdoar os Seus filhos confessores (*1 Jo 1:9). Com isto os "pés" ficam novamente limpos e a comunhão restabelecida. Que graça!

Pedro não quer submeter-se à lavagem dos pés. O que o Senhor lhe diz, então? "Se eu não te lavar, não tens parte comigo." A resposta do Senhor não foi: "não tens parte em mim", pois "em Cristo" Pedra já tinha a Sua parte - visto que já era nascido de novo (Mt 16: 16-17). Mas Pedro, depois que pecou (ele negou ao Senhor), não tinha mais parte com Ele, já não gozava de alegria nem de paz interior, sua comunhão prática com o Pai cessou, esta que sempre foi a bendita porção de nosso Senhor Jesus quando caminhou por aqui.

Quando Pedro ouve esta resposta, espanta-se e diz: "Não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Ele ainda não compreendeu! O Senhor então lhe diz: "Quem já se banhou... está todo limpo". Quando a Palavra de Deus opera em nosso coração o Novo Nascimento, aí somos, por assim dizer, "lavados"; e isto somente ocorre uma vez. Porém toda vez que, em nossa vida diária, nos contaminamos, os nossos pés precisam ser novamente limpos. Por outras palavras: ao caminharmos por esse mundo mau, contaminamo-nos interna e externamente, e dessas manchas nós constantemente precisamos purificar-nos. Mas o "agente" que opera a nossa purificação diária e o nosso restabelecimento já não é mais o sangue, visto que a nossa justificação e reconciliação ­operadas mediante o sangue da oferta do corpo de Jesus Cristo­ aconteceu "uma vez por todas" e "para sempre".4 Agora que nos tornamos participantes da Nova Vida, ou seja, uma vez que fomos "lavados" , a purificação diária se dá por meio de outro "agente": a Palavra da verdade. E a operação desta é fruto da intercessão do Senhor. A Palavra de Deus tem um poder purificador e santificador (compare Jo 15:3; Tt 3:5; Ef 5:26; Jo 17:17).

Um procedimento do Velho Testamento já ilustrava isso: quando de sua consagração, os sacerdotes eram oficialmente lavados, e isso acontecia apenas uma vez. Mas depois, a cada dia, tinham de lavar as mãos e os pés na bacia de bronze antes de entrar no santuário - na presença de Deus (Lv 8:1-10; Êx 30:17-21). Que todos os crentes sejam igualmente zelosos e vigilantes em sua caminhada, mas que também nunca se omitam de apresentar-se ao Senhor, permi­tindo que Ele lhes lave diariamente os pés; nem sejam negligentes em lavar os pés uns aos outros, auxiliando-se mutuamente na santidade! (* GI 6: 1-2).

  1. O traidor é indicado e se afasta:

No versículo 10 o Senhor já havia dito: "Vós estais limpos, mas não todos". Depois, no versículo 18, lemos: "Aquele que come do meu pão, levantou contra mim seu calcanhar". O Senhor está muito desolado por causa de Judas, o ímpio discípulo, e, para aliviar o Seu coração, compartilha a traição com os discípulos. Procure descrever a tristeza que agora toma conta deles! João, que nos relata essa cena, estava reclinado sobre o peito do Senhor (pois, quando à mesa, era um costume judeu deitar-se sobre almofadas), e, portanto, suficientemente perto para captar tudo o que o Senhor estava comunicando. Quão necessário e precioso é estarmos sempre próximos ao Senhor! (Jo 14:23). Logo depois que o Senhor, em resposta à pergunta de João, indicou o traidor**, Judas saiu. "E era noite." Noite escura, dentro dele e ao seu redor! Ele estava prestes a cometer o mais negro e terrível de todos os crimes do mundo, por meio do qual- oh, que maravilha! - consumaram-se os maravilhosos desígnios de Deus que visavam à nossa salvação.

4 Hebreus 10:10 e 14.
** A indicação foi feita pelo pedaço de pão molhado. Esses bocados imergidos num molho de ervas eram comidos antes do cordeiro. Portanto, isso aconteceu antes de comerem a Ceia.

  1. A glorificação do Filho e do Pai e o novo mandamento:

[Assim que Judas saiu, .0 Senhor pôde dizer: "Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele"(Jo 13:31 - "E.R.C'). O que quis dizer com estas palavras? Já em João 12:23 o Senhor havia falado de uma glorificação: "É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem". Aquilo fora dito tendo em vista alguns "gregos" que, vindo de longe, subiram para ali. Valendo-se desta circunstância, Ele estava indicando, em figura, a glória futura que U1e caberá em Seu Reino Milenário, quando, na condição de "Filho do homem", for o "cabeça sobre todas as cousas" - nEle, então, serão abençoadas todas as nações. A base para vir a receber tal glória e para que as pessoas5 pudessem abrigar-se nela era a Sua morte ­Jo 12:24: O "grão de trigo" tinha de morrer. Contudo, aqui em Jo 13:31 trata-se daquela glória que o Filho de Deus faria resplandecer lá na cruz e da qual Se apropriaria a seguir. Aquela porta que se fechou após Judas já separava Cristo do mundo. O que O aguardava agora era a glória da Cruz, esta que supera todas as glórias de Jesus, mesmo aquelas que estarão ligadas ao Seu Reino vindouro, quando reinar em meio a Israel. É que na cruz o "Filho do homem" suportou tudo o que se fez necessário para que toda a glória de Deus fosse ostentada. A majestade de Deus tinha de ser preservada ante a atrevida sublevação de suas criaturas. Sua justiça no tocante à questão do pecado deveria ser mantida e demonstrada. Ao mesmo tempo, porém, tinha de vir plenamente à luz o amor de Deus para com os homens perdidos. Tal aspecto deveria ser igualmente enaItecido. Tudo isso Jesus cumpriu na cruz. A verdade e a santidade de Deus sentenciavam a humanidade caída em pecado à morte; Sua justiça condenava o pecador por toda a eternidade; e Sua majestade requeria o cumprimento do juízo. A morte tinha de intervir para obter a remissão. Mas... Quem iria morrer? Não foi dito acima que o amor de Deus deveria ser igualmente ostentado? Sim, e com todo o seu resplendor. Deus então concede que Jesus, o Seu prazer, o Filho de Seu amor, sofresse a morte amargos a em favor da humanidade perdida, caída em pecado, morte em favor de Seus inimigos; a morte do Intercessor, do Salvador. A cruz prova ao mundo inteiro que Deus é amor; visto que nem mesmo poupou a Seu Filho (* Jo 3: 16). Maravilhoso amor! Afora isso, a cruz também proclama a todos que Deus é justo, pois está escrito: "Deus é luz" . Ele castigou o Filho em favor dos pecadores, para que pudesse conduzi-los à glória (*Hb 2:10 e 2 Co 5:21). Que glória, a da cruz, a do Filho do homem! E caso Deus agora tenha de punir um pecador, Ele o faz sem comprometer a Sua natureza de amor.

5 - Tanto os judeus como os gregos (em figura, as nações).

Ao compartilhar os desígnios de Deus com seus discípulos ­desígnios cuja base é a cruz -, o Senhor Jesus passa a encarar com mais alívio a morte. Ao considerar aqueles que havia de remir, é preenchido por um amor especial, e pela primeira vez dirige-se aos discípulos chamando-os de "filhinhos" (v. 33). Ele agora iria separar-Se deles, e a lacuna deixada deveria ser preenchida pelo amor fraternal. Ele, o "pilar principal", seria removido, e eles daqui em diante deveriam sustentar uns aos outros pelo amor. O amor desde então deveria ser a marca característica de todo verdadeiro discípulo (Jo 13:34-35; *1 Jo 3:14). Nos primeiros séculos os cristãos foram severamente perseguidos, e foi notório aos pagãos como se amavam mutuamente. Que em nossos dias o mundo também possa notar o mesmo entre os filhos de Deus (*Hb 10:24; 13: 1).

74. b) A Introdução da Santa Ceia (conteúdo para vários estudos)

Lucas 22:14-20.

1 Coríntios 11:23; 32. 1 Coríntios 10: 16-17.

Explicação e ensinamentos:

É bem provável que a ceia pascal somente tenha sido comida após a lavagem dos pés. Esta ceia, pela qual o Senhor tinha ansiosamente esperado, era a última ceia pascal a ser celebrada simbolicamente, visto que estava prestes a ser consumada em Sua morte. "Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus" (Lc 22:16), a saber, em Sua morte.

O Senhor passa o cálice aos discípulos (provavelmente o último cálice da ceia pascal, em que eram passados vários cálices) e anuncia: "De agora em diante não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus". O que queria dizer?

1º) O vinho simboliza a alegria (SI 1 04: 15). É somente no Reino Milenário que o Senhor terá ocasião de se alegrar em meio a seu amado povo de Israel aqui nesta Terra. É então que a Sua alegria será a alegria do Mundo, e a alegria do Mundo a Sua (leia Is 35: 10; Jr 33: 11; *Sf 3: 14-17).

2º) A videira, neste caso, também pode ser vista como uma ilustração da ligação do Senhor com os discípulos enquanto na Terra (leia Jo 15: 1 e 5), em con­traste com a ligação que os seus hoje gozam com Ele nos céus (Ef 2:6; 1 :22-23). Ao morrer, cessa­riam esses laços terrenos do Se­nhor com os discípulos, ainda que, no futuro, em Seu Reino, a Sua ligação terrena com Israel será novamente reatada (Sf 3:14-17).

Mas enquanto o Senhor Jesus estiver ausente, no céu, os seus deveriam celebrar na Terra a Sua memória (Lc 22: 19) até que Ele venha (*1 Co 11:26). Até então os judeus vinham celebrando anualmente a páscoa, recordando que foram libertados da escravidão no Egito e que, graças ao sangue de um cordeiro, foram também protegidos do anjo exterminador que executou o juízo de Deus; da mesma forma, os verdadeiros discípulos de Jesus deveriam, de aqui em diante, celebrar - ou anunciar - a morte dEle. Foi em Sua morte que os crentes obtiveram a redenção e a vida eterna. A Ele devem tudo: a graça, a paz e a glória eterna. Com Sua morte, o Senhor Jesus glorificou plenamente a Deus e também obteve a favor dos homens a grande redenção (* Jo 17 :4).

[Além da comemoração anual da páscoa, o Velho Testamento ainda menciona uma outra festa que figurava esta celebração: era a oferta anual das primícias da terra (Dt 26: 1-11). Nesta festa o povo redimido sempre enaltecia a Deus por tê-los resgatado da miséria e levado àquela terra bendita da qual manava leite e mel) De igual modo os crentes, ao celebrar a memória da morte de seu Senhor e Salvador, não podem senão enaltecer Àquele que morreu por eles e louvar a Deus, o Pai, adorando-O em espírito e em verdade (* Jo 4:23­24). Sua porção, aliás, é bem superior à de Israel em Canaã. Assim, temos visto que o Senhor Jesus instituiu a Sua Ceia em associação direta com a ceia pascal. Mas deve ser feita uma I clara distinção entre a ceia pascal I e a Ceia do Senhor. Está escrito: I "depois de haver ceado, tomou também o cálice".

O pão e o vinho usados na instituição da Ceia são emblemas do corpo e do sangue do Senhor, e, por serem elementos separados, ilustram a morte de Jesus, visto que ali o corpo e sangue também estavam separados. O corpo do Senhor foi entregue e o Seu sangue derramado para a reconciliação e a redenção do homem pecador. Quanto a Israel, esse sangue deveria tomar-se a base para uma nova aliança que Deus quis estabelecer com esse povo (Jr 31:31-34; Hb9:11-28). Embora esta "nova aliança" se refira exclusivamente a Israel, e não propriamente aos cristãos de hoje que formam a Igreja (ou Assembléia), vemos que a nossa salvação está baseada no mesmo fundamento que a de Israel no futuro, a saber: o sangue de Jesus (Cl1:20; *Ef 1:7; *Ap 5:9). É de se notar ainda que, naquele momento, a doutrina da Igreja (Assembléia) ainda não tinha sido transmitida aos discípulos, pois esta somente foi dada mais tarde por meio de Paulo, quem recebeu tal revelação diretamente do Senhor Jesus (Ef 3: 11). Quando da ceia pascal, o Senhor ainda se dirigiu aos discípulos como que a israelitas crentes que O tinham reconhecido e acatado.

Mas qual é o propósito da Ceia? É uma ceia memorial (Lc 22:19). É o próprio Senhor quem disse isso, e claramente: "Fazei isto em memória de mim!" Não é, portanto, uma ceia que visa alcançar o perdão, segundo o errôneo ensino de alguns. O per­dão, aliás, é um pré-requisito para que se tenha o direito de chegar à Mesa do Senhor. O lugar à Mesa do Senhor somente pertence aos que realmente conhecem o Senhor como seu salvador. Pelo apóstolo Paulo, por intermédio de quem o Senhor nos comunicou a doutrina acerca da Igreja, o Se­nhor fez-nos conhecer ainda um outro significado contido nos emblemas da Ceia: é a expressão da unidade dos crentes, pois estes formam um corpo. Está escrito assim: "Nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão" (*1 Co 10: 17).

Como acabamos de dizer, são somente os crentes verdadeiros que pertencem à Mesa do Senhor, e da referência mencionada da carta aos Coríntios depreende-se que seria totalmente contrário à vontade de Deus que os convertidos tomassem a Ceia do Senhor junto com inconversos, já que os crentes nunca formam um corpo com os descrentes - e é isto que estariam solenemente professando perante Deus, os anjos e os homens#. E se na festa da páscoa já era vedada a participação a um estrangeiro ou a um incircunciso, quanto menos um inconverso poderia agora participar na Santa Ceia! A luz não tem comunhão com as trevas, nem a fé com a incredulidade; como então seria possível expressar na Santa Ceia a comunhão e a unidade entre crentes e incrédulos?!

# Embora muitos afirmem que Judas, o traidor, também tenha tomado a Ceia do Senhor junto com os apóstolos, não há base bíblica que confirme isso, mas sim, como cremos, o contrário. Segundo Mt 26:20-25, Mc 14: 17-21 e Jo 13:30, devemos admitir que o traidor tenha-se afastado antes. E ainda que a leitura de Lc 22:21 aparentemente contradiga isso: "Todavia a mão do traidor está comigo à mesa", é bom lembrarmos que Lucas não relata os fatos seguindo o critério cronológico, antes segundo o critério moral. Assim, no capítulo 22, ele está descrevendo o procedimento do Senhor naquela noite em contraposição com o procedimento dos discípulos:
Judas está por trair o Senhor (v. 21-23) e Pedro por negá-LO (v. 31-34); mas Lucas toma estes eventos, cuja ocorrência não foi em seqüência, e combina-os segundo seus efeitos - eis por que também anexa a discussão dos discípulos acerca de qual deles parecia ser o maior (v. 24-30) ... tudo isso quando o Senhor estava prestes a morrer em favor deles! Cronologicamente a discussão dos discípulos acontecera bem antes (Mt 20: 17-28), enquanto o prenúncio deque Pedro negaria ao Senhor ocorrera bem depois (Mt 26:20-34). Desta forma, é bem certo que o traidor somente esteve com o Senhor à mesa antes da Ceia. Além do mais o traidor já tinha sido apontado pelo Senhor antes da Ceia (segundo Mt 26:23; Mc 14:20); seria, pois, muito estranho que os discípulos, depois de cear, perguntassem mais uma vez quem dentre eles seria o traidor, conforme Lc 22:23 talvez dê a entender.

A Santa Ceia contém um aspecto muito precioso, mas que é também um aspecto de responsabilidade. Quão precioso e quão bendito para os remidos ê poder apresentar-se à Mesa do Senhor para, junto com os demais, anunciar a morte do Senhor até que Ele venha! Deus concede que contemplem com um frescor sempre renovado os emblemas do pão que partem e o cálice da bênção, esses sinais que remetem à morte de Seu Filho e ao amor de Deus e lembram também do amor de seu Senhor e Salvador, esse que deu Sua vida, derramou o Seu sangue e tomou todo o cálice da ira de Deus por seus pecados. Ao contemplarem este amor e os sofrimentos do Senhor em prol da culpa deles, o Espírito Santo os compele a adorar a Deus, o Pai, e ao Filho, que por eles sofreu e morreu como um cordeiro oferecido em sacrifício. Um dia, na glória, todos os redimidos espontaneamente se prostrarão e adorarão ao Senhor Jesus, assim que O virem tal como um cordeiro com as marcas de Suas feridas (Ap 5). Mas hoje os cristãos também são conclamados muitas vezes a adorar a Deus e a apresentar-Lhe sacrifícios de louvor e de gratidão (veja em 1 Pe 2:5; *Hb 13:15; Jo 4:23-24). É muito bonito lembrarmos que os primeiros cristãos se reuniam a cada "primeiro dia da semana" (o dia do Senhor) com o fim de celebrar a Ceia do Senhor (At 20:7); e hoje ainda deveriam perseverar nisso, até que Ele venha (*At 2:42; 1 Co 11:26).

Mas, como já dissemos, a Mesa do Senhor também compreende um aspecto de responsabilidade. Acabamos de ver que ali somente devem ser admitidos crentes verdadeiros, e estes, por sua vez, devem sempre se auto-examinar antes de tomar a Ceia. Examinar não somente seus caminhos, suas ações e omissões, mas também examinar-se a si mesmos, ou seja, considerar o estado de seus corações, se sua condição é pura e digna de se apresentarem à Mesa do Senhor. Quando os crentes em Corinto descuidaram desse auto-exame, o Senhor os disciplinou severamente com doença e morte (1 Co 11:27-30). Caso alguém não esteja mais caminhando em santidade, deve ser disciplinado com o afastamento da Mesa do Senhor (exclusão). Está escrito: "Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor!" (1 Co 5: 13). E também: "Lançai fora o velho fermento" (1 Co 5:7). O "fermento" compreende toda a sorte do mal, inclusive doutrinas ímpias. A Mesa é a Mesa do Senhor, e ali Ele quer que Sua santidade seja preservada. De certa forma a Mesa do Senhor é o elemento central visível da Igreja (ou Assembleia), sendo o próprio Senhor Jesus o bendito elemento central invisível que atrai os seus. E sempre que Ele for o principal elemento de atração, sempre que os seus estiverem reunidos em Seu nome, perseverando na santidade e na verdade, eles podem contar com a Sua presença (*Mt 18:20).

 

Andar por Fé (Parte 1)