Problemas da Juventude, do Casamento e da Família

PROBLEMAS da Juventude, do Casamento e da Família À LUZ DA BÍBLIA    
J Graf

VII

OS PAIS E OS FILHOS

"Pela fé Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei" (Hebreus 11:23).

"Foi criado três meses em casa de seu pai" (Atos 7:20 - E.R.C.).

"Não podendo, porém, escondê-lo por mais tempo, [sua mãe! tomou um cesto de junco, calafetou-o com betume e piche, e, pondo nele o menino, largou­-o no caniçal à beira do rio" (Êxodo 2:3).

É nesta seqüência - os pais em conjunto, depois o pai e em seguida a mãe - que iremos considerar a responsabilidade e a posição de cada um. Depois também nos dedicaremos aos filhos.

1-Os Pais (Pai e Mãe Juntos)

O plano de Deus para um casal geralmente contempla a geração de filhos. Cada criancinha, com a sua alma imortal, tem um preço imenso aos olhos de Deus. Os filhos são todos descendentes de Adão e nascem em pecado; a tarefa dos pais consiste em criá­-Ios para o Senhor Jesus, para integrar o povo dEle e com vistas ao Céu. Isto não acontece sem fadigas e sem sacrifício de tempo e energia. Mas vale a pena, pois a. meta almejada é que a criança venha a ser um cidadão do céu. Como é terrível quando os pais são irresponsáveis e negligenciam este encargo!

 

Os Filhos, um Dom de Deus

É muito honroso para um casal poder receber um filho das mãos do Senhor (Salmo 127:3). Por um procedimento maravilhoso o Criador forma a criancinha que vai nascer. O salmista celebra este sábio e admirável procedimento de Deus (ver Salmo 139:13-16; Jó 10: 11-12). Como é horrível quando o homem ousa suprimir aquilo que Deus faz!

Diversas mulheres do Antigo Testamento, tais como Sara, Rebeca, Raquel, a mulher de Manoá, Ana, bem como Izabel no Novo Testamento, desejavam ardentemente conceber uma criancinha. O desejo delas não foi logo satisfeito, e elas sofreram muito por não terem um filho.

-1} Sara procurou remediar o problema utilizando os seus próprios meios. Por falta de fé e de perseverança nas promessas de Deus, não colheu senão dificuldades no caso de Hagar (Gênesis 16). Descrente, riu das promessas de Deus (Gênesis 18). Mas no ano seguinte Deus cumpriu a Sua promessa. A própria Sara recebeu pela fé poder para ser mãe (Hebreus 11:11­12).

-2} A mulher de Manoá era estéril. Um anjo prometeu-lhe um filho, ordenando-lhe que o criasse como nazireu (que quer dizer: consagrado a Deus). O seu marido não teve por suficientes as palavras do anjo. Ele suplicou a Deus que lhes instruísse mais sobre o menino. Deus considerou a súplica dele, mas não acrescentou novidades às instruções que já tinha dado (Juízes 13).

Em cada um desses casos em que a falta de fé era evidente, Deus permaneceu fiel à Sua promessa.

-3} Isaque e Zacarias oraram por descendentes e Deus lhes atendeu o pedido (Gênesis 25:21 e Lucas 1: 13). Deus ouviu também a súplica de Raquel e deu-lhe um filho (Gênesis 30:22).

-4} Outro exemplo é Ana, que suplicou a Deus por um filho e Ele lhe concedeu o pedido (1 Samuel 1:27). O que ela fez com esse presente de Deus? Ainda antes do nascimento da criança, ela prometeu solenemente: "Ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida" (I Samuel 1:11). Notem que ela propôs que ele fosse um nazireu consagrado a Deus para sempre, e não apenas por um período de tempo. Ela renunciou assim, em benefício de seu Deus, aos direitos que, como mãe, tinha sobre a criança. Ela não só teve o propósito como também o cumpriu: "Pelo que também o trago como devolvido ao SENHOR, por todos os dias que viver; pois do SENHOR o pedi" (1 Samuel 1:28). Deus, por sua vez, não tardou em abençoá-la: "O jovem Samuel crescia em estatura e no favor do SENHOR e dos homens" (1 Samuel 2:26).

Hoje, nós não encontramos no Novo Testamento nenhuma indicação relativa a prática dos votos. Ainda assim a atitude de Ana pode servir de exemplo, incitando-nos a considerar nossos filhos como sendo "formosos aos olhos de Deus" (Atos 7:20). Que possa haver entre nós mais mães como Ana, que não desejam um filho para si, mas para o Senhor e para o serviço no santuário!

Ainda hoje a esterilidade tem sido a causa de muitos desgostos. Muitos há que sofrem sob esta difícil renúncia. Mas há também os que aceitam esta circunstância e se dedicam a outras crianças, que não são seus filhos, com o propósito de conduzi-Ias ao Senhor Jesus. Conferem assim um segundo significado a uma profecia de Isaías cujo cumprimento pleno é ainda futuro: "porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada" (Isaías 54:1). Citemos o caso de Mordecai, que ao morrerem os pais de sua sobrinha Ester, reconheceu ser sua tarefa criar a menina (Ester 2:7). Note­-se que a Palavra de Deus reconhece a filiação por adoção ao lado da filiação por nascimento (Gálatas 4:5 e Romanos 8:15).

 

Os PAIS DEVEM ESTAR UNIDOS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

É sempre prejudicial que os pais (ou um deles) tenham preferência por um dos filhos. Isaque amava Esaú, enquanto Rebeca amava Jacó (Gênesis 25:28). As conseqüências dessa condição nos são conhecidas, e culminaram com a ludibriação do próprio pai (Gênesis 27:6-17, 46).

Cada filho tem um temperamento diferente. Esaú, por exemplo, era caçador, homem dos campos; Jacó, pelo contrário, era mais calmo, mais caseiro e ficava nas tendas. Essas disposições já são perceptíveis na infância.

Os filhos precisam, para sua educação, que os pais sejam unânimes e tenham proceder uniforme. É de se observar que tanto o pai como a mãe devem permanecer na posição que lhes é designada por Deus.

 

Os PAIS DEVEM SER UM BOM EXEMPLO PARA OS FILHOS

É próprio dos filhos imitar ao mesmo tempo o bem e o mal dos adultos.

-1) Cantarolar, dançar ou entoar lamentações são procedimentos que as crianças observam mesmo que não compreendam a profundidade das motivações. Nas brincadeiras delas era possível constatar como imitavam os adultos (Mateus 11:16-17).

-2) E quando o Senhor Jesus entrava em Jerusalém as multidões clamavam: "Hosana ao Filho de Davi!". Um pouco depois, as crianças fizeram o mesmo no templo. Repetiram o que tinham ouvido sem compreender o significado da expressão, e - que graça maravilhosa! - o Senhor apreciava isso. "Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor" (Mateus 21:9,15-16).

-3) Tito devia exortar os jovens e ser ele próprio um modelo para eles (Tito 2:6-7). Assim também nós devemos viver pessoalmente as instruções que apregoamos aos outros (Tiago 2:12).

-4) Os pais de Moisés não temeram o decreto do rei do Egito. O filho deles imitou-lhes a fé e não temeu a cólera do rei (Hebreus 11;23,27). Filho de uma família de fé, ele também agiu pela fé.

-5) Acazias "andou nos caminhos de seu pai, como também nos caminhos de sua mãe". E assim, seguindo o exemplo deles, cultuou os ídolos (1 Reis 22:52-53)!

Os exemplos dos pais, tanto bons como maus, têm mais efeito sobre os filhos do que geralmente se imagina. E ser um bom exemplo requer da parte dos pais exercício constante.

CONSELHOS PARA UMA BOA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

(1) Manter os filhos sob disciplina com todo o respeito

Esta exigência, feita aos que aspiram ao ofício de bispos* numa igreja, é uma diretriz para todos os lares cristãos. Não significa que os pais devam ceder aos caprichos de um filho, nem tampouco que devam ser tiranos. A dignidade e a seriedade é o que devem caracterizar os pais.

* Por bispos subentendem-se os anciãos que observam e zelam pejo bom andamento das coisas numa congregação local - 1 Timóteo 3:4. Lembramos que, no sentido bíblico, não se trata de um título clerical conferido por uma organização religiosa!

Este requisito para que alguém possa dedicar-se ao diaconato (o serviço em meio aos santos - 1 Timóteo 3:12) também se aplica a todos os pais cristãos e exige deles a contínua consciência de sua responsabilidade na educação dos filhos. Mas eles também podem, pela fé, recorrer ao auxílio do Senhor. E se, porventura, necessitarem sabedoria, podem pedi-Ia a Deus, que a concederá (vejam em Tiago 1:5).

(3) Não existe um gabarito para a educação dos filhos

"Ensina a criança conforme a sua natureza" (Provérbios 22:6**). Isto requer um tratamento distinto para cada criança, fato que muitas vezes não é bem compreendido pelos demais irmãos. É preciso ter muita sabedoria e dependência do Senhor para que erros sejam evitados.

"E ainda quando for velho não se desviará do ensino" (Provérbios 22:6**). Isso implica que a educação, seja ela boa, má ou mesmo inexistente, repercutirá por toda a vida.

 

Os Fins da Educação

o pai e a mãe devem examinar, perante o Senhor, se as metas que almejam para seus filhos correspondem de fato à vontade do Senhor, se visam o bem da criança ou se apenas existem para satisfazer as suas próprias ambições (Romanos 12:16).

-1) Joquebede, mãe de Moisés, dispunha de curto período de tempo para educar o seu filho. Quão rapidamente nossos filhos, criados no círculo protetor da família, são colocados num mundo em que os perigos os rodeiam de todos os lados. Mas Joquebede e sem dúvida o seu marido implantaram no coração de Moisés a semente que o levou, mais tarde, por amor do seu povo, a recusar ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo antes ser maltratado com o povo de Deus do que usufruir, por um pouco, dos prazeres transitórios do pecado. Ele considerou que partilhar do rebaixamento de Cristo era riqueza maior que todos os tesouros do Egito. As circunstâncias forçaram sua mãe a deixar o filho num meio hostil a Deus, mas ela o fez confiando firmemente em Deus, e não foi desapontada (Hebreus 11:23-26). Aos quarenta anos de idade Moisés sentiu no coração sair a seus irmãos, os filhos de Israel. A semente tinha germinado!

** Conforme a Bíblia alemã versão ”Elberfelder”.

-2) O apóstolo João não poderia ter maior alegria do que saber que os seus filhos andavam na verdade (3 João 4, compare com 2 João 4). Ele provavelmente estava referindo-se a alguns crentes para os quais se tornara um pai em Cristo. Não é este um alvo digno de ser almejado para os pais crentes, que os seus filhos não apenas dêem o passo da conversão, mas também caminhem de acordo com toda a doutrina cristã e na verdade?

Os pais estão muito sujeitos a perseguir alvos ambiciosos para os filhos e acabam com isso prejudicar tanto a vida espiritual como a vida prática deles.

-3) Lameque, descendente de Caim, é um exemplo bem  impressionante disso. Seus filhos foram grandes neste mundo. Foram eles que lançaram as bases para a estrutura social que hoje conhecemos. Jabal foi o pai dos que habitam em tendas e se dedicam à agricultura e pecuária. Jubal foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta, enfim, da arte e da música. Tubalcaim, foi artífice de todo o instrumento cortante de bronze e de ferro, ou seja, o iniciador do artesanato e da indústria (Gênesis 4: 19-22). O comércio surgiu somente mais tarde, nos dias de Sodoma.

Contudo, os filhos de Lameque foram apenas homens do mundo!

Todo crente está no mundo.

Deve trabalhar tranqüilamente e comer o seu próprio pão (2 Tessalonicenses 3: 12). Mas se todos os seus pensamentos e anseios se resumirem a subir na escala social, e não cuidar de seu estado espiritual, ele sofrerá o respectivo dano.

O mundo sem Deus oferece tudo o que pode satisfazer o coração natural, oferece também o sucesso, mas é um sistema cujo fim desemboca no juízo. Não obstante, isso exerce forte influência sobre os crentes, e grandes danos têm sido contabilizados devido à falta de vigilância nesse aspecto.

-4) Outros pais amontoam tesouros para os seus filhos justificando sua ganância com 2 Coríntios 12:14: "Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos" . Ocorre que o apóstolo estava, com esta frase, apenas justificando seu proceder perante os coríntios, aos quais não queria tornar-se um jugo.

É certo que os pais zelam pelos filhos em amor. Mas em primeira linha convém que ajuntem tesouros no céu, tesouros que nunca perecerão (Mateus 6:20).

 

O Auxílio Espiritual dos Pais

o auxílio espiritual é particularmente valioso e necessário no círculo familiar. Várias coisas podem servir como ponto de partida para os pais transmitirem aos filhos alguma lição espiritual.

(1) - Explicações espontâneas sobre as reuniões cristãs

Se os filhos não assistem aos cultos,o que é sempre lamentável, não poderão aprender por meio daquilo que vêem. Para os israelitas, a festa dos pães asmos (sem fermento) era uma excelente ocasião para contar aos filhos aquilo que o Senhor tinha feito por eles, livrando-os da escravidão do Egito. Os pais também podiam relatar suas próprias experiências pessoais, o que Deus lhes fizera quando eles saíram do Egito (Êxodo 13:8).

Quantas coisas não ocorrem na vida do lar e da igreja que os pais podem aproveitar como ocasião para testemunhar suas experiências de fé e elucidar as verdades bíblicas!

(2)- Perguntas que os filhos fazem

As crianças são boas observadoras e fazem perguntas pertinentes, mesmo no campo espiritual. Quanto prejuízo não é acumulado quando os pais imaginam que suas crianças ainda são muito pequenas para receber uma resposta! Ou será que os pais não respondem porque eles próprios não estão versados no assunto?

O Velho Testamento cita quatro dessas perguntas:

-A) "Que rito é este?" (Êxodo 12:26-27). O próprio Deus indicou aos pais o que eles deviam responder: "É o sacrifício da páscoa ao SENHOR que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas." A lição era que o orgulho deste mundo teve um fim: o juízo.

B) "Que é isso?" (Êxodo 13:14­15). É uma pergunta que podia surgir quando as crianças vissem que cada primogênito da jumenta e do homem era resgatado por

um cordeiro. Era a ocasião para o pai israelita então explicar de sua libertação da escravidão, o julgamento de Deus sobre os primogénitos do Egito e a morte de um cordeiro como substituto dos primogénitos israelitas. "Por isso - devia dizer - eu sacrifico ao SENHOR todos os machos que abrem a madre; porém a todo primogénito de meus filhos eu resgato".

-C) Caso, mais adiante na história de Israel, um filho quisesse saber:

"Que significam os testemunhos e estatutos e juízos que o SENHOR nosso Deus vos ordenou?" (Deuteronômio 6:20), Deus já tinha preparado uma resposta para a boca do pai (versículos 21­25). Uma vez libertados da escravidão do Egito, quando estavam a caminho da terra prometida, eles' receberam a instrução de dizer: "O SENHOR nos ordenou cumpríssemos todos estes estatutos, e temêssemos o SENHOR nosso Deus, para o nosso perpétuo bem... [isso] será por nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos”.

-D) Também para a pergunta "Que vos significam estas pedras?', Deus havia prescrito a resposta adequada: As águas do Jordão foram cortadas diante da Arca da Aliança do Senhor. O povo de Israel atravessou o Jordão pisando em solo seco.

Os que confiam em Deus sempre obterão dEle uma boa resposta para passar adiante. É importante dedicar tempo e pedir a Deus sabedoria para conversar com os filhos (e filhas) que vão crescendo. Um bom relacionamento requer paciência e confiança mútua. Que o Senhor também conceda graça para respondermos às perguntas incômodas; mas por outro lado, nem o próprio Senhor respondeu a perguntas que eram provocantes (Marcos 11:33).

(3)- A instrução dos filhos

Deus instruiu o Seu povo sobre a maneira como devia ensinar os filhos:

"[Eu} os farei ouvir as minhas palavras, e aprendê-las-ão, para me temerem todos os dias que na terra viverem, e as ensinarão aos seus filhos" (Deuteronômio 4:10).

Vemos que o primeiro requisito é que os próprios pais tenham aprendido a Palavra de Deus. Deuteronômio 11:18 apresenta outra condição:

"Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma". Os pais e mães devem acolher a Palavra de Deus não só com a inteligência, mas, acima de tudo, com o coração; é então que estarão aptos a falar sobre ela a seus filhos.

Deuteronômio 6:6 enfatiza esta indicação: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração". Como é importante reter a Palavra de Deus com reto coração! Somente então são dadas as condições para falar disso aos filhos.

Chama a atenção como justamente o livro de Deuteronômio contém tantas instruções que visam o bem-estar dos filhos. É que o povo de Israel estava prestes a entrar na terra prometida, e era nisso que Moisés queria focalizar toda a atenção deles.

Hoje também os pais que crêem no Senhor podem regozijar-se da sua chamada celestial em Cristo. Eles e seus filhos vivem num mundo cheio de perigos, que não se importa com a Palavra de Deus. No entanto, o Senhor tem interesse no bem ­estar dos filhos dos crentes e quer que os seus pais saibam instruí­-Ios quanto ao caminho que conduz ao céu.

A leitura de Deuteronômio 4: 10 deixa claro que a tarefa de ensinar os filhos é incumbência dos pais. É uma leviandade inconcebível remeter essa tarefa unicamente aos professores da escola dominical. O ensino e a instrução são pertinentes a ambos os pais (Provérbios 1:8; 6:20). Nem o pai nem a mãe podem esquivar-se desta obrigação. Se alguém pensa não ser capaz de cumpri-Ia, que ore por isso e leia com fervor a Bíblia.

Os deveres familiares tornam difícil a leitura diária da Palavra de Deus, seja individualmente seja em família. Porém, o Senhor recompensa ricamente toda fidelidade. E esta bênção beneficia mais particularmente os filhos. É claro que aos pais cabe adequar o ensino à capacidade de compreensão de cada um de seus filhos.

Onde e quando partilhar estas instruções aos filhos? A própria Palavra de Deus indica várias possibilidades: os israelitas deviam instruir os seus filhos em casa, no caminho, de manhã e à noite (Deuteronômio 11: 19). E mais ainda, uma vez que a Palavra de Deus tivesse fincado raízes no coração dos pais, estes teriam condição de até mesmo inculcá­-las em suas crianças (Deuteronômio 6:6-7) e ordenar­-/hes que as praticassem (Deuteronômio 32:46). Em Deuteronômio 4:9 a responsabilidade do ensino é estendida até mesmo aos netos.

 

AS ORAÇÕES DOS PAIS PELOS FILHOS

Manoá suplicou a Deus que o instruísse acerca do filho que ia receber (Juízes 13:8). 

Ana orou para ter um filho. O pedido atendido foi uma nova razão para que ela orasse (1 Samuel 1:10; 2;1). Este é um exemplo a ser imitado por todas as mães e pelas mulheres que um dia se tornarão mães.

Que privilégio têm os pais crentes, de sempre poderem confiar os seus filhos e os problemas a eles associados em oração ao Senhor. Temos quatro casos no Novo Testamento ­são três pais e uma mãe - que se dirigiram ao Senhor na sua angústia:

-1) O oficial do rei em Cafarnaum, cujo filho ia morrer e que resumiu a sua oração em sete palavras: "Senhor, desce, antes que meu filho morra". Esse pai creu na palavra do Senhor, o qual lhe assegurou: "Vai, o teu filho vive". E o filho foi curado (João 4:46-54).

-2) A mulher Cananéia teve de perseverar na oração, porque se encontrava fora do âmbito das bênçãos de Israel e porque o Senhor queria pôr à prova a sua fé. Sua primeira súplica foi curta, e a segunda ainda mais: "Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim!''; "Senhor, socorre-me!". Uma vez que, pela fé, a mulher se colocou no lugar apropriado, a filha dela foi curada (Mateus 15:21-28).

-3) A única filha de Jairo, um dos principais da Sinagoga, estava à morte. O pai dela prostrou-se aos pés de Jesus e insistentemente Lhe suplicou que salvasse a sua filha. No caminho até ela o Senhor foi detido e demorou-se, e aconteceu que a menina de doze anos morreu. Quando, mais tarde, o Senhor chegou à casa de Jairo, Ele tomou a menina pela mão e ela se levantou (Marcos 5:21-43). –

-4) Um pai tinha levado aos discípulos o seu único filho, que era lunático. Eles não conseguiram curá-la. O pai ajoelhou-se perante o Senhor Jesus e pediu: "Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito". Jesus repreendeu O demônio, e o demônio saiu do menino. Desde aquela hora o menino foi curado (Mateus 17:14-18).

O socorro dos homens pode falhar, mas nunca o do Senhor Jesus e o de nosso Pai celeste. É verdade que Ele nem sempre atende aos nossos desejos; mas Ele sempre responde na Sua sabedoria e para a glória do Seu nome, tendo em vista o nosso bem e o dos nossos filhos. A resposta pode, por vezes, ser um "não". Mas os pais cristãos podem orar com fé e confiança por seus filhos não-convertidos, porque este é um pedido consoante com os pensamentos de Deus.

 

Os FILHOS DEVEM ASSISTIR ÀS REUNIÓES CRISTÃS?

É uma indagação feita especialmente pelos pais de crianças inquietas, mas também por outras pessoas que freqüentam as reuniões de culto, oração ou edificação. O que diz a Bíblia? Nas diretivas que encontramos na Palavra de Deus podemos notar alguns níveis de diferenciação segundo a maturidade das crianças. O apóstolo Paulo, por exemplo, escreveu aos coríntios levando em conta o discernimento espiritual deles: "falo-vos como a filhos" (2 Coríntios 6:13). (Lamentavelmente a versão da Bíblia que dispomos em português nem sempre corresponderá à sutil diferenciação que citaremos a seguir, mas...) Vejamos como a Bíblia discerne as crianças:

(1)- Criancinhas de Peito

Em Joel 2:16 é anunciada uma reunião solene para o arrependimento e conversão do futuro remanescente de Israel:

"Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos e os que mamam". É evidente que uma criança de peito não está em condições de se arrepender ou de se converter. Porém, a presença dessas frágeis criaturas, que não somente não compreendem, mas, às vezes; até mesmo podem incomodar, é agradável a Deus na apresentação do louvor e até mesmo na humilhação. "Rapazes e donzelas, velhos e crianças. Louvem o nome do SENHOR" (Salmo 148:12-13).

Aos principais líderes religiosos dos judeus, que estavam indignados com o Senhor, Ele teve de dizer: "Nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?" (Mateus 21:16).

(2)- As criancinhas

"Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos (ou "menininhos" **)...  para que ouçam e aprendam, e temam ao SENHOR vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei" (Deuteronômio 31: 12). Nunca é demasiado cedo para se aprender o temor de Deus.

Josafá e todo o Judá estavam em pé, perante o SENHOR, como também as suas crianças (ou "criancinhas"), as suas mulheres, e os seus filhos (2 Crônicas 20:13). Em sua aflição todos se congregaram diante de Deus para a oração.

(3)As crianças maiores .

"Vós estais hoje todos perante o SENHOR vosso Deus: ..., todos os homens de Israel, os vossos meninos, as vossas mulheres... para que entres na aliança do SENHOR teu Deus" (Deuteronômio 29:10-12).

-A) Josué teu o livro da lei perante toda a congregação de Israel, incluindo as mulheres e os meninos (Josué 8:35).

-B) Enquanto Esdras orava em humilhação, ajuntou-se a ele de Israel uma mui grande congregação de homens, mulheres e crianças {Esdras 10:1) - C) Ao fim da permanência de Paulo em Tiro, onde ficou sete dias com os discípulos, os irmãos da localidade o acompanharam até fora da cidade com suas mulheres e filhos. Todos se ajoelharam na praia e oraram (Atos 21:5). Note-se que as crianças estavam ali junto com o povo de Deus.

(4)- Os que já entendem o que ouvem

Esdras apresentou a lei perante a congregação, formada por homens e mulheres, e por todos os que eram capazes de entender o que ouviam. Este terceiro grupo contemplava os adolecentes que vinham crescendo e já tinham capacidade suficiente para escutar a lei e compreender o seu sentido (Neemias 8:2-3). Onde se encontra hoje a juventude de muitos lares cristãos? Estará lá, onde a Escritura é lida e explicada?

(5) - Rapazes e moças com saber e entendimento

Em Neemias 10:28-29 os filhos e filhas que já respondiam inteiramente por si tinham aderido aos demais do povo na iniciativa de separar-se do mal. Comprometeram-se, sob juramento, a observar e a praticar os mandamentos de Deus. É um passo que implica verdadeira maturidade espiritual.

Note-se que, para as reuniões que mencionamos do livro de Neemias - as reuniões para a humilhação, para manifestar alegria, para estabelecer uma aliança e para a prestação de um juramento - havia um requisito de idade visando a maior compreensão.

Quanto às demais reuniões, sejam para o louvor, para o arrependimento, para a oração ou para o ensino, todos os jovens deviam estar presentes ­independentemente de sua capacidade de compreensão. Não tomou o próprio Senhor Jesus os pequeninos em Seus braços, impôs sobre eles as mãos e os abençoou? (Marcos 10:16). A Sua benção não dependia do nível de instrução ou de compreensão, menos ainda da idade.

Quais seriam os pais que ousariam privar seus filhinhos dessa bênção que somente é obtida na presença do Senhor? É obvio que os pais terão de cuidar para reduzir ao mínimo a perturbação que os filhos causam nas reuniões da igreja - a paciência dos demais presentes não pode ser abusada.

 

O Mundo e os Filhos

Os filhos são parte integrante da família. Eles são o futuro de um povo. O Faraó consentiu que saíssem do Egito apenas os homens israelitas. Ele almejava, dessa maneira, assegurar o seu poder sobre todo o povo. Porém Moisés insistiu: "Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, com os filhos e com as filhas" (Êxodo 10:8-9).

Nos dias da perseguição do rei Davi, Itaí, que nem era israelita, ajuntou-se a ele e atravessou o ribeiro de Cedron rumo ao deserto, com todos os seus homens e todas as crianças que estavam com ele (2 Samuel 15:22). Que exemplo digno de imitação para nós e para os nossos filhos: colocar-nos neste mundo ao lado do Senhor rejeitado! Isso talvez nos faça ficar sozinhos, à parte da grande maioria, mas seguindo ao Senhor com certeza não teremos prejuízo.

Os pais carecem de toda a graça de Deus para educar seus filhos no temor de Deus.

 

Uma tão grande salvação - Parte 5