O irmão por quem Cristo morreu

O irmão por quem Cristo morreu
(Leia Romanos 14 até capítulo 17)

Estes versículos da epístola aos Romanos tratam de um tema que trouxe à tona problemas muito difíceis nos primeiros anos da história da Igreja na terra. Naturalmente os judeus convertidos traziam as suas idéias e os seus sentimentos para a Igreja, como por exemplo no que diz respeito a alimentos e bebidas, ou quanto aos dias que tinham por costume respeitar ou ainda mesmo no tocante aos seus costumes e outras coisas desse gênero. Se apoiavam em parte sobre a lei de Deus, mas também sobre a tradição dos anciãos. Em todos os casos, estavam profundamente aferrados à suas convicções. Por outro lado, os crentes que procediam das nações não se sentiam sujeitos a essas formalidades. Por isso tinham tendência a considerar que tudo não era mais que o fruto de uma obstinação insensata de parte de seus irmãos de origem judia. Daí resultavam permanentes atritos.

Nos versículos a que nos referimos, toda esta questão é examinada e solucionada com a admirável simplicidade da sabedoria divina. E este tema conserva toda a sua atualidade para nós. Os problemas que chegaram a agitar, e inclusive a dividir aos cristãos no princípio, parecem ter desaparecido em grande parte hoje em dia. Porém outras questões comparáveis as têm substituído. E se nós não observamos as instruções contidas nesses versículos, isso provocará toda classe de males e perigos.

Não é nossa intenção estudar esses versículos um por um, mas sim resumir os seus ensinos. Encontramos três princípios, cada um acompanhado por uma exortação prática.

1) A liberdade Cristã

O primeiro princípio se encontra no capítulo 14:4. Poderíamos chamá-lo de liberdade cristã. Tudo o que diz respeito à nossa conduta e a um serviço consagrado ao Senhor não depende da autoridade de nossos irmãos, mas sim de uma autoridade muito mais eminente: a de nosso Senhor. Não se trata de saber se o nosso juízo é bom ou mau, senão de que cada um, olhando com simplicidade para o Senhor, se aplica a fazer o que está persuadido ser a Sua vontade. Daí surge a importante exortação: "Cada um tenha opinião bem definida em sua própria opinião" (Rm 14:5). Deus quer que cada um seja exercitado por este dilema. Cada vez que houver um mandamento explícito na Palavra, tal exercício não é necessário. Nesse caso, obedecer simplesmente é a única maneira de satisfazer a Deus. Mas se apresentam muitas situações nas quais o caminho correto não se vê com claridade. Por exemplo: Tenho eu a liberdade de ir aqui ou acolá, de participar disto ou daquilo, de participar nesta ou naquela distração? Enérgicas e prejudiciais controvérsias têm sido provocadas ao suscitar essa classe de perguntas. Que toda discussão cesse e cada um procure discernir, de joelhos, qual a vontade de seu Senhor. Quando tivermos compreendido em Sua presença o que cremos ser a Sua vontade, devemos fazê-la com a simplicidade da fé. Certamente, é a fé que deve nos dirigir, e não a nossa própria vontade. Não devemos ir mais além nem ficarmos aquém de nossa fé, senão a nossa consciência nos condenará, assim como mostra os dois últimos versículos do capítulo 14.

2) A Responsabilidade Individual

Alguns dirão:."Mas há aqueles que vão abusar desse princípio da liberdade cristã". Sem dúvida. Os versículos 10 a 12 previnem tais abusos introduzindo um segundo princípio: o da responsabilidade individual diante de Deus. Eu não posso impor esse princípio a meu irmão e, se procuro fazer, pode ser que ele não preste nenhuma atenção, mas deve lembrar que prestará conta de tudo que fizer diante do Tribunal de Cristo. Cristo morreu e ressuscitou, de modo que domina sobre os mortos e os vivos (v. 9). Diante disso, seja por vida ou por morte, é Ele que deve dirigir todos os nossos movimentos. Nós Lhe prestaremos conta de nossos atos. Um fato tão solene deve falar a cada um de nossos corações, e manter-nos atentos aos que nós mesmos fazemos. A exortação ligada a esse princípio se encontra no versículo 13: "Não nos julguemos mais uns aos outros". É o lado negativo da exortação, mas também há um lado positivo:

"Pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão" . Pensemos no Tribunal de Cristo e, quanto ao nosso irmão, vigiemos para não fazê-lo cair.

Este último ponto está exposto de uma maneira muito prática mais adiante neste mesmo capítulo. O apóstolo usa expressões muito fortes e fala inclusive. da possibilidade de destruir a "aquele a favor de quem Cristo morreu" (v. 15). E acrescenta: "Não destruas a obra de Deus" (v. 20). A soberana obra de Deus não pode ser aniquilada, as verdadeiras ovelhas de Deus jamais perecerão. Porém na prática, algum pode naufragar. O caso considerado é o de um cristão proveniente das nações, espiritualmente forte, sem prejuízo algum, que faz ostentação de sua liberdade diante de seu irmão de origem judaica que está firmemente aferrado à lei e se mostra débil em sua fé frente ao Evangelho. Este fraco irmão é assim tentado a fazer coisas que a sua consciência em seguida o reprovará amargamente e pode ocorrer que o seu estado espiritual se obscureça por todo o resto de sua vida.

Se não temos cuidado, tanto você como eu podemos causar dano a nosso irmão. Estejamos, pois, atentos e mantenhamos os nosso olhos fixos no Tribunal de Cristo.

Ao falar assim, praticamente temos antecipado o terceiro grande princípio dessa passagem das Escrituras: o da solidariedade cristã, como poderíamos chamá­-l0. Está estabelecido claramente no versículo 15: "aquele a favor de quem Cristo morreu". Se Cristo morreu verdadeiramente por esse fraco irmão, o qual é meu irmão, este deve ser para Ele muito querido. Como não o amaremos ternamente, mesmo que às vezes se mostre difícil de suportar e até infame? Não esqueçamos que nós também podemos ser companheiros difíceis de suportar e torpes para os demais.

A exortação do versículo 19 se desprende desse principio. Como somos irmão, devemos procurar as coisas que tem por fim a "paz e também as da edificação de uns para com os outros". Se nos sentimos tentados a transgredir este ensino, façamo­-nos esta pergunta de Moisés:

"Homens, vós sois irmãos; por que vos ofendeis uns aos outros?" (Atos 7:26). Desafortunadamente, os nossos pensamentos podem extraviar-se até o ponto de dizer, ao ver um irmão mais fraco:

"Vejam, eis aqui alguém que vacila. Demo-lhe um empurrãozinho e vejamos se cai". E, efetivamente, esse pobre amigo cai. Então dizemos: "Sempre pensávamos que cairia". Agora vejam como não serve para nada, nós o tiramos do pedestal:'. Mas... quando estivermos perante o Tribunal de Cristo, o que nos dirá o Senhor?:

"Quem morreu por esse irmão?"

Se pudéssemos ouvi-LO agora, os nossos ouvidos zumbiriam. Diante desse Tribunal haverá tantas perdas como recompensas.

Enfatizamos ainda que todas essas instruções se relacionam com circunstâncias da vida individual, nossa caminhada cristã ou do serviço que prestamos ao Senhor. Não devemos fazer entrar em sua esfera de aplicação as verdades divinas essenciais e perdoar alguma indiferença que se manifeste ante essas verdades. o versículo 17 eleva os nossos pensamentos a um plano superior Deus estabeleceu a Sua autoridade e o Seu governo sobre os Se por meio de uma relação de amo Já não se trata mais de detalhes sobre o comer ou o beber, m sim de aspectos de ordem mo e espiritual, segundo o desejo d Sua vontade. Se vivemos e ordem segundo uma justiça prática e em paz, com gozo santificado com o poder do Espírito Santo, para a glória de Deus. Estamos sob a Sua autoridade e Seu Espírito nos é dado para esse fim.

Como formamos parte Reino de Deus, os princípios q devem nos reger são, com acabamos de ver: liberdade pessoal, responsabilidade diante de Deus e solidariedade com nosso irmãos. Sim, devemos estar atentos em observar estes três princípios. Contribuirão para estabelecer em nós a justiça, paz e o gozo.

3) Cristo é o nosso grande exemplo

o primeiro parágrafo capítulo 15 resume e completa estudo deste tema. Os santos q estão arraigados na fé cristã devem suportar as fraquezas de se irmãos mais fracos. Em lugar quererem agradar-se a si mesmos, devem procurar o que convém para o bem espiritual dos demais. A atitude que consiste em dizer:

"Tenho o direito de agir assim e vou fazê-lo, isto é só de minha conta, pouco importa o que os outros pensam". Isto não é agir segundo o pensamento de Cristo, pois é exatamente o que Ele jamais faria: "Porque também Cristo não se agradou a si mesmo" (15:3). Os profetas e os evangelistas dão testemunhos d'Ele. Era o único na terra que tinha absoluto direito de satisfazer-se a si mesmo. E, contudo, viveu inteiramente na dependência de Deus. Se identificou tão completamente com Ele que as injúrias dos que ultrajavam a Deus caíram naturalmente sobre a Sua cabeça (Salmo 69:9).

Ele é o nosso grande exemplo.

Temos a necessidade de contemplar as Suas glórias morais como as Escrituras nos dão a conhecer. E assim, se O seguimos, receberemos a paciência e o sustento necessário.

Devemos, pois, manifestar a graça de Cristo na conduta diária de uns para com os outros e agir de modo que reflita um mesmo pensamento em Cristo Jesus. Para isso temos necessidade da orientação das Escrituras, e também de todo o poder de Deus. Ele é o Deus da paciência e da consolação. Fortalecidos assim, chegaremos a ser capazes de glorificá-LO juntos.

Ao invés dos fracos terem o seu espírito e a sua boca cheia de críticas contra alguém forte, e que o forte despreze ao fraco (vide 14:3), cada um estará cheio de louvores a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Não forma este conjunto um quadro do mais harmonioso? Pois bem, por cima das diferenças que possam existir, recebamos uns aos outros com perfeita felicidade da comunhão cristã. Assim este feliz quadro poderá ser um realidade para a glória de Deus.

  1. B. Hole

Jesus:

"Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos,se tiverdes amor uns aos outros". (João 13:34-35)

 

Aos Pais de Meus Netos - Análise de Famílias da Biblia - Ana, Eli e Samuel