Manejando Bem a Palavra da Verdade

Manejando Bem a Palavra da Verdade

OS DOIS ADVENTOS¹

Qualquer pessoa que considerar com atenção as profecias do Antigo Testamento se surpreenderá com duas classes de predição aparentemente contraditórias com respeito à vinda do Messias. Um conjunto de profecias fala de Sua vinda em fraqueza e humilhação: homem de dores que sabe o que é padecer, raiz duma terra seca, sem aparência nem formosura, sem atrativos que agradasse, o rosto ultrajado, as mãos e os pés perfurados, abandonado pelos homens e por Deus e sepultado entre os ímpios (Isaías 53; 7:14; Salmo 22:1-18; Daniel 9:26; Zacarias 13:6-7; Marcos 14:27).

¹ Advento vinda, chegada.

O outro conjunto de profecias anuncia um soberano formoso e irresistível, que purgará a terra com juízos terríveis, reunirá os dispersos de Israel, restaurando o trono de Davi com magnificência superior à de Salomão, e introduzirá um reinado de paz profunda e justiça perfeita (Isaías 11:1-2, 10-12; Deuteronômio 30:1-7; 24:21-­23; 40:9-11; Jeremias 23:5-8; Daniel 7:13-14; Mateus 1:1; 2:2; Lucas 1:31-33).

No devido tempo começou o cumprimento da profecia messiânica com o nascimento do Filho da virgem (Isaías 9:6) em Belém (Miquéias 5:2) e teve continuidade literalmente até a plena realização de cada predição da humilhação do Messias. Mas os judeus não quiseram receber o seu Rei, "humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta”, e O crucificaram (Zacarias 9:9; Mateus 21:1-5; João 19:15-16).

Todavia, não devemos concluir que a maldade humana havia frustrado o firme propósito de Deus, pois Seus conselhos eternos falam de um segundo advento de Seu Filho, quando então as predições referentes à glória terrena do Messias serão literalmente cumpridas, do mesmo modo que as referentes a Seus padecimentos terrenos (Oséias 3:4-5; Lucas 1:31-33; Atos 1:6-7; 15:14-17; Mateus 24:27-30).

Os judeus resistiam a crer em tudo quanto os profetas disseram com respeito aos sofrimentos de seu Messias; nós somos tardios a crer em tudo quanto eles falaram com respeito à Sua glória. Certamente a nossa falta é maior, pois devia ser mais fácil crer que o Filho de Deus virá "sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória" que crer que viria como criança de Belém, como carpinteiro de Nazaré. Na verdade, nós cremos em tudo isso porque já aconteceu, não porque os profetas predisseram, e já é hora de pararmos de reprovar os judeus por sua incredulidade.

Se se perguntasse como os judeus podiam ser tão cegos quanto ao evidente significado de tantas' profecias, a resposta seria que eles estavam cegos do mesmo modo que muitos cristãos estão cegos quanto ao significado evidente de um maior número de predições da glória terrena do Messias pelo processo de "espiritualizar" as Escrituras. Noutras palavras, os antigos escribas disseram ao povo que as profecias dos sofrimentos do Messias não deveriam ser interpretadas literalmente, do mesmo modo que alguns escribas modernos estão dizendo às pessoas que as profecias da glória terrena do Messias não devem ser interpretadas ao pé da letra.

O segundo advento, porém, é uma promessa feita tanto à Igreja quanto aos judeus. Entre as últimas palavras de conforto proferidas pelo Senhor a seus perplexos e tristes discípulos, antes do sacrifício na cruz, estão as seguintes: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também" (João 14: 1-3).

Aqui o Senhor fala de Seu retorno com as mesmas características de Sua partida. Se Sua partida foi pessoal e corporal, como de fato foi, Seu retorno deverá ser do mesmo modo, pois não há nenhuma Escritura que indique outra maneira.

No momento exato do desaparecimento de nosso Senhor da vista de Seus discípulos, "dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e Ihes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir" (Atos 1:10-11).

Primeira aos Tessalonicenses 4:16-17 tem o mesmo significado: "Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor".

"Aguardando a bendita esperança 'e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tito 2:13).

"Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-Io como ele é" (1 João 3:2).

Por essa "bendita esperança", somos ensinados a "vigiar" (Marcos 13:33, 35, 37; Mateus 24:42; 25:13), a "aguardar" (1 Tessalonicenses 1:10) e a estar "apercebidos" (Mateus 24:44). A última oração na Bíblia é para o pronto regresso de Cristo: "Vem, Senhor Jesus!" (Apocalipse 22:20).

Esses textos indicam claramente que o segundo advento será pessoal e corporal. Portanto, isso não significa, como teorizam alguns, a morte do crente, nem a destruição de Jerusalém, nem a descida do Espírito Santo no Pentecostes, nem a difusão gradual do cristianismo, mas representa, sim, a "bendita esperança" da Igreja, o momento do despertar dos santos que estão dormindo, os quais serão, junto com os santos vivos, "transformados" (1 Coríntios 15:51-52) e arrebatados para se encontrar com o Senhor - o tempo no qual nós que agora somos filhos de Deus seremos como Ele, e o santo fiel será recompensado por suas obras em prol da salvação, por amor ao nome do Senhor.

As seguintes passagens bíblicas evidenciarão mais o contraste entre os dois adventos de nosso Senhor.

 

O PRIMEIRO ADVENTO

"E ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria" (Lucas 2: 7).

"Agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado" (Hebreus 9:26).

"Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (João 3: 17).

 

O SEGUNDO ADVENTO

"Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória" (Mateus 24:30).

"Assim também Cristo, tendo­ se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação" (Hebreus 9:28).

"E a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus" (2 Tessalonicenses 1:7,8).

"Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos" (Atos 17:31).

Já foi apresentado o suficiente para demonstrar que tanto as promessas a Israel quanto as feitas à Igreja requerem imperativamente o retomo de nosso Senhor à terra. Pode ainda ser de ajuda considerar, rapidamente, as teorias que são apresentadas em oposição à doutrina bíblica do segundo advento pessoal e corporal de Cristo.

Naturalmente, há de se compreender que as Escrituras referentes à Sua aparição física, visível, no término desta dispensação da graça devem ser distinguidas das que se referem aos Seus atributos de onisciência e onipotência, em virtude do que Ele sempre estará conosco, até a consumação dos tempos.

Mas o homem Cristo Jesus está agora pessoal e fisicamente à destra de Deus: "Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita" (Atos 7:55). Hebreus l:3dizque Jesus, "depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas". "Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Colossenses 3:1).

Para ilustrar: Durante a guerra franco-prussiana, o general von Moltke, com seu gênio e sua habilidade e por meio de uma rede telegráfica, estava presente em todos os campos de batalha, embora estivesse presente fisicamente só em seu gabinete em Berlim. Mais tarde, ele se juntou ao exército fora de Paris, e então sua presença visível estava ali. Do mesmo modo, o nosso Senhor, em virtude de Seus atributos divinos, está agora presente em Sua Igreja, mas Ele só será visível fisicamente na terra em Seu segundo advento.

 

RESPOSTAS ÀS SEIS TEORIAS OPOSTAS AO SEGUNDO ADVENTO DE CRISTO

 

1. "O retorno do Senhor cumpriu-se na vinda do Espírito Santo."

As profecias referentes ao retomo do Senhor não foram cumpridas na descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, nem em Sua manifestação nos avivamentos e nas reuniões de oração, porque:

a) Essa interpretação anula praticamente a doutrina da Trindade, fazendo do Espírito Santo apenas uma manifestação de Cristo.

b) Na promessa que Cristo fez da descida do Espírito Santo, Ele fala claramente dEle como "outro Consolador" (João 14:16); e em João 16:7, Cristo diz: "Se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei".

c) Os escritores inspirados de Atos, das Epístolas e de Apocalipse mencionam o retomo do Senhor mais de 150 vezes, depois de Pentecostes e sempre como algo futuro.

d) No dia de Pentecostes não se cumpriu nenhum dos eventos profetizados como simultâneos ao segundo advento de Cristo, como a ressurreição dos santos que dormem (1 Coríntios 15:22­-23; 1 Tessalonicenses 4:13-­16); a "transformação" dos crentes que ainda vivem, por meio da qual se revestirão de "incorruptibilidade" - o "corpo de humilhação" feito semelhante "ao corpo da sua glória" e serão "arrebatados... para o encontro do Senhor nos ares" (1 Coríntios 15:51-53; 1 Tessalonicenses 4:17; Filipenses 3:20-21); e a aflição de todas as tribos da terra por causa da vinda visível do Filho do homem em poder e grande glória (Mateus 24:29-30; Apocalipse 1:7). Estes são fenômenos associados ao retomo do Senhor. Ocorrerão no momento de Sua vinda. Nenhuma dessas coisas aconteceu no Pentecostes, nem em nenhuma outra manifestação do Espírito Santo.

 

2. “A vinda do Senhor se manifesta na conversão de um pecador."

Não, a conversão de um pecador não é a vinda do Senhor. Esta teoria parece demasiado pueril para ser exposta como explicação suficiente de profecias tão numerosas e circunstanciais.

a) De acordo com as Escrituras, é exatamente o contrário. A conversão é a vinda de um pecador a Cristo, não de Cristo ao pecador (Ma teus 11:28; João 5:40; 6:37; 7:37).

b) Nenhum dos acontecimentos citados acima, preditos para ocorrer no retorno do Senhor, acompanham a conversão do pecador.

 

3. "A vinda do Senhor acontece por ocasião da morte. "

A morte de um cristão também não é a vinda de Cristo.

a) Quando os discípulos ouviram o Senhor dizer que se quisesse, um deles permane­ceria até a Sua vinda, tornou­-se corrente entre eles "o dito de que aquele discípulo não morreria" (João 21 :22-24).

b) Os escritores inspirados sempre se referem à morte do crente como sua partida desta terra. Em nenhum momento a vinda do Senhor está relacionada com a morte do cristão (Filipenses 1:23; 2 Timóteo 4:6; 2 Coríntios 5:8). O moribundo Estêvão viu os céus abertos e o Filho do homem não vindo, mas assentado à destra de Deus (Atos 7:55).

c)Nenhum dos acontecimentos profetizados para cumprir-se no retorno do Senhor acompanha a morte de cristão algum.

 

4. ” A segunda vinda de Cristo se deu quando Jerusalém foi destruída."

A destruição de Jerusalém pelos romanos não foi a segunda vinda de Cristo.

a) Em Mateus 24 e Lucas 21, temos a predição de três acontecimentos: a destruição do templo, a vinda do Senhor e o fim do mundo (dos tempos). A desnecessária confusão desses três fatos tão distintos entre si deu lugar à noção de que o cumprimento de um era o cumprimento de todos.

b) O apóstolo João escreveu o Apocalipse depois da destruição de Jerusalém, todavia fala da vinda como de um acontecimento futuro (Apocalipse 1:4,7; 2:25; 3:11; 22:7,12,20). A última promessa da Bíblia é: "Certamente, venho sem demora". A última oração é: "Amém! Vem, Senhor Jesus!".

c) Nenhum dos acontecimentos preditos para cumprir-se no retorno do Senhor ocorreu na destruição de Jerusalém (1 Tessalonicenses 4:14-17 ; Mateus 24:29-31; 25:31-32).

 

5. “ A vinda do Senhor se dá mediante a divulgação do cristianismo. "

     A propagação do cristianismo não é a segunda vinda de Cristo.

a) A difusão do cristianismo é gradual, e as Escrituras falam do retomo do Senhor como algo repentino e inesperado (Mateus 24:27, 36-42, 44 e 50; 2 Pedra 3:10; Apocalipse 3:3).

b) A difusão do cristianismo é um processo; as Escrituras falam invariavelmente do retomo do Senhor como um acontecimento.

c) A difusão do cristianismo traz salvação ao perdido, enquanto a vinda de Cristo, segundo nos diz a Bíblia, não traz salvação, mas "repentina destruição" (1 T essaloni­censes 5:2-3; 2 Timóteo 1:7­10; Mateus 25:31-46).

 

6. "O segundo advento de Cristo ainda não pode acontecer pois o evangelho ainda não foi pregado a toda a criatura. "

De fato, às vezes, se diz que essa vinda não pode acontecer até que todo o mundo se converta por meio da pregação do evangelho e seja submetido ao reino espiritual de Cristo durante mil anos. Esta opinião é absolutamente errônea porque:

a) As Escrituras descrevem claramente a condição da terra na segunda vinda de Cristo como uma condição de terrível maldade, não de bem-aventurança (Lucas 17 :26-32; Gênesis 13: 13; Lucas 18:8; 21:25-27).

b) A descrição das Escrituras do curso da presente dispensação não dá a entender que em algum momento o mundo estará todo convertido (Mateus 13:36-43,47,50; 25:1-10; 1 Timóteo 4:1; 2 Timóteo 3: 1-9; 4:3-4; 2 Pedra 3:3-4; Judas 17-19).

c) O propósito declarado de Deus nesta dispensação é "constituir dentre ... [os gentios] um povo para o seu nome", e não a conversão do mundo. Depois disso, Jesus "voltará" e só então o mundo será convertido {Atos 15:14-17; Mateus 24:14 ("para testemunho"); Romanos 1:5 ("entre", não "de" todos os gentios); Romanos 11: 14 ("alguns", não "todos"); 1 Coríntios 9:22; Apocalipse 5:9 ("de toda", não "toda")}.

d) Seria impossível "vigiar" e "esperar" por um acontecimento cuja realização sabemos não se dará até, pelo menos, daqui a mil anos.

 

AS DUAS RESSURREIÇÕES

A Bíblia ensina em termos bem claros que todos os mortos serão ressuscitados. Nenhuma doutrina de fé repousa sobre ponto de maior autoridade bíblica nem é mais vital para o cristianismo que esta. "E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé" (1 Coríntios 15: 13-14).

Contudo, é importante observar que as Escrituras não ensinam que todos os mortos serão ressuscitados ao mesmo tempo. A propósito, já aconteceu uma ressurreição parcial dos santos: "Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos" (Mateus 27:52-53).

Há duas ressurreições, ainda futuras, diferentes no que diz respeito ao tempo e às pessoas que serão ressuscitadas. Uma é bem distinta da outra: uma é a "ressurreição da vida", outra a "ressurreição do juízo" . São dois eventos claramente diferenciados: a "ressurreição dos justos e dos injustos". A passagem abaixo refere-se aos distintos estágios desse importante acontecimento: "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5:28-29). Se a isso contestarem que a palavra "hora" indica a ressurreição simultânea dessas duas classes, pode-se responder que a "hora" do versículo 25 já dura vinte séculos! (Atente também para o termo "dia" em 2 Pedro 3:8; 2 Coríntios 6:2; João 8:56).

"Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos" (Lucas 14:13-14). Nesta passagem o Senhor Jesus fala somente da primeira ressurreição. No capítulo 15 de 1 Coríntios, a distinção é ainda mais evidente: "Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda" (v. 22-23}.

"Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro" (1 Tessalonicenses 4:13-16).

A "ressurreição da vida", "dos justos", dos "mortos em Cristo", é a mesma de que Paulo fala em Filipenses 3: 11: "Para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos". A ressurreição dos mortos subentenderia que todos os mortos foram ressuscitados simultaneamente; mas "dentre os mortos" indica necessariamente uma seleção, que alguns "dos mortos" permanecem. É literalmente a ressurreição de entre os mortos. Se o apóstolo tivesse em mente a ressurreição de todos os mortos, porque iria se expressar com os termos "para, de algum modo, alcançar a ressurreição", sendo que não poderia escapar dela?

Em Apoca1ipse 20:4-6 as duas ressurreições são novamente mencionadas juntas, com a importante adição do tempo que se interpõe entre elas: "Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem­aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos". Nos versículos 12e 13, a segunda ressurreição é para a condenação.

O testemunho das Escrituras deixa claro que os corpos dos crentes serão ressuscitados dentre os corpos dos incrédulos. Os primeiros serão arrebatados para se encontrar com o Senhor no ar mil anos antes da ressurreição dos últimos. Convém enfatizar que a doutrina da ressurreição se restringe somente ao corpo dos mortos; o espírito deles, tão logo deixa o corpo, entra imediatamente num estado de bem-aventurança ou de tormento (Filipenses 1:23; 2 Coríntios5:8; Lucas 16:22-23).

 

OS CINCO JUÍZOS

Não se encontra nas Escrituras a expressão "juízo geral" nem a idéia que ela pretende encerrar. Tem razão o escritor Pentecost em afirmar: "O mundo cristão incorreu num hábito nocivo de falar do juízo como um grande acontecimento que ocorrerá por ocasião do fim do mundo, quando todos os seres humanos - santos, pecadores, judeus e gentios, os vivos e os mortos - estariam diante do grande trono branco para serem julgados. Nada poderia estar mais distante do ensino das Escrituras do que esta acepção".

As Escrituras não falam de um, mas de cinco juízos, os quais diferem em quatro aspectos gerais: objeto, ocasião, lugar e resultado do juízo.

 

JUÍZO 1

Objeto: os pecados dos crentes foram julgados.

Ocasião: 30 a. C.

Lugar: a cruz do Calvário. Resultado: morte para Cristo, justificação para o crente.

“Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, onde o crucificaram" (João 19:17-18).

"Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados" (1 Pedro2:24).

"Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus" (1 Pedro 3: 18).

"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito:

Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro" (Gálatas 3:13).

"Aquele [Cristo) que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:21).

"Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8: 1).

 

JUÍZO 2

Objeto: disciplina do crente, quando comete pecado. Ocasião: qualquer momento. Lugar: qualquer lugar. Resultado: castigo.

"Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Coríntios 11:31-32).

"É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?" (Hebreus 12:7).

 

JUÍZO 3

Objeto: as obras dos crentes serão avaliadas.

Ocasião: quando Cristo vier pelos seus.

Lugar: no ar (1 Tessalonicenses 4:17; Mateus 25:24). Resultado: para o crente, recompensa ou perda de recompensa, mas ele "mesmo será salvo".

Embora Cristo tenha levado os nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro, e Deus tenha entrado em aliança conosco para "de nenhum modo" lembrar-se deles (Hebreus 10: 17), toda obra do crente deverá ser julgada.

"É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Coríntios 5:9-10).

"Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus" (Romanos 14:10).

Ambas as passagens limitam­-se aos crentes como indica o contexto. Na primeira, o apóstolo escreveu apenas a nosso respeito, considerando-­nos num dos dois estados: estando no corpo e ausentes do Senhor, ou ausentes do corpo e presentes com o Senhor. Esta linguagem não poderia ser empregada com respeito aos incrédulos. "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis. Porque importa que todos nós [sejamos manifestos] ..." (2 Coríntios 5:9­-10).

Na passagem da Epístola aos Romanos, o pronome "nós", implícito na forma verbal "compareceremos", se limita ao crente. O Espírito Santo nunca mistura os salvos e os não salvos. Em seguida, embora pareça incrível que um santo redimido pelo sangue de Cristo vá ser submetido a algum juízo, Paulo cita um texto de Isaías para provar que "todo joelho" se dobrará, e acrescenta: "cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus" (Romanos 14:12).

O texto seguinte dá a base do juízo das obras:

"Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Coríntios 3:11-15).

Os textos seguintes estabelecem a ocasião desse juízo:

"Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras" (Mateus 16:27).

"E serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos" (Lucas 14: 14; 1 Coríntios 15:22-23).

"Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus" (1 Coríntios 4:5).

É confortante, em vista desse inevitável exame minucioso de nossas pobres obras, aprender que Deus, em Seu paciente amor, está agora nos conduzindo a fim de que possa então encontrar alguma coisa pela qual nos louve.

"E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras" (Apocalipse 22:12).

"Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia" (2 Timóteo 4:8).

 

JUÍZO 4

Objeto: o juízo das nações. Ocasião: a gloriosa aparição de Cristo (Mateus 25:31-32; 13:40­-41).

Lugar: o vale de Josafá (Joel 3:1-2,12-14).

Resultado: alguns salvos, outros perdidos.

Base: o tratamento dispensado àqueles que Cristo chama de "meus irmãos" (Mateus 25:40­45; Joel 3:3,6-7).

Acredita-se que esses "irmãos" são os judeus remanescentes que reconhe­cerão Jesus como seu Messias durante "a grande tribulação" que segue o arrebatamento da Igreja, tribulação essa que terminará com a gloriosa aparição de nosso Senhor (Mateus 24:21-22; Apocalipse 7:14; 2 Tessalonicenses 2:3-9). A prova disso é muito extensa para ser apresentada aqui. Contudo, é evidente que esses "irmãos" não podem ser os. crentes desta dispensação, pois seria pouco provável encontrar cristãos que sejam tão ignorantes a ponto de não saberem que os atos de cuidado para com os crentes são na verdade ministrações ao próprio Jesus2.

2 N.do T.: Segundo Mateus 25:31-46, os que são salvos por ocasião deste juízo ignoram o motivo de sua aceitação.

Como esse juízo das nações viventes é às vezes confundido com o do "grande trono branco" de Apocalipse 20:11,  convém observar os seguintes contrastes entre as duas cenas.

Os santos se associarão a Cristo nesse juízo e, portanto, não podem ser o objeto dele (1 Coríntios 6:2; Daniel 7:22; Judas 14-15). Na verdade, o juízo do grande trono branco e o juízo das nações só têm uma coisa em comum: o Juiz.

 

NAÇÕES VIVENTES

Nenhuma ressurreição

As nações são julgadas. 

Na terra.  

Nenhum livro.

Três classes: ovelhas, cabritos  e irmãos.

Quando Cristo aparecer.

GRANDE TRONO BRANCO

Há ressurreição.

Os mortos julgados.

Os céus e a terra desapareceram.

Livros são abertos.

Uma classe: os mortos.

Depois de Ele ter reinado mil anos.

 

JUÍZO 5

Objeto: o juízo dos perversos mortos.

Ocasião: um "dia" determinado depois do milênio (At 17:31; Apocalipse 20:5,7).

Lugar: diante do grande trono branco (Apocalipse 20:11).

Resultado: julgados lançados no lago de fogo (Apocalipse 20:15).

Alguns podem inquietar-se coma palavra "dia" em Atos 17:31 e Romanos 2: 6. Nas passagens seguintes, "dia" significa um longo período: 2 Pedro 3:8; 2 Coríntios 6:2; João 8:56. A "hora" de João 5:25 tem até hoje durado vinte séculos. As Escrituras também falam de um juízo de anjos (1 Coríntios 6:3;Judas6; 2 Pedro 2:4).

-- O SEGUNDO ADVENTO DE CRISTO --

Devemos considerar que a segunda vinda de Cristo acontece em duas etapas. Primeiro ele virá até as nuvens para arrebatar a Igreja até o céu. Depois de algum tempo Ele voltará com a Igreja para a terra, com poder e grande glória, para destruir os inimigos e estabelecer o reino prometido a Israel. Distinga as diferenças básicas:

PARA A IGREJA                           PARA ISRAEL

“Para os seus. ..................................... “Com” os seus

Não é precedido de sinais ............... Precedido de eventos e juízos

(Fp 4:5).                                         (Mt 24:29-33)

O mundo não O verá.......................... Todo olho O verá (Ap 1: 7)

Ele buscará os Seus                        Ele enviará os Seus anjos

pessoalmente (1 Ts 4:16-17).                    (Mt 24:31)

Ele somente virá até as nuvens ..... Ele virá sobre a terra 

 (1 Ts 4:17).                                          (Zc 14:3-5)

Antes da tribulação (1 Ts 5:9) ....... Depois da tribulação(Mt24:21-22}

Para arrebatar os santos.                Para ferir as nações e estabelecer o reino

 

C. I. Scofield

 

Profecia: Os Tempos finais (parte 5)