“ESTUDOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS” -Apocalipse 3

ESTUDOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS”
tradução de Synopsis of the Books of the Blíble-
John Nelson Darby 

APOCALIPSE – capítulo 3

Portanto, em Tiatira vemos o fim, até à vinda do Senhor. Sardes começa uma nova fase colateral na História da Igreja. Exceto o fato de ter as sete estrelas, nenhum dos caracteres eclesiásticos de Cristo, nenhum dos traços sob os quais é visto como andando no meio das igrejas é mencionado aqui. No entanto a Igreja, como tal, é nomeada - é ainda a sua História. Todavia, como foi feito menção da vinda do Senhor, todos os caracteres de Cristo tem relação com o que Ele terá no Reino. No entanto, há ainda sete estrelas - a autoridade suprema sobre a Igreja. Ele tem a autoridade sobre tudo e relativamente a tudo. É neste caráter que Ele tem algo a ver com Sardes. Ele tem os sete espíritos - a plenitude da perfeição na qual governará a Terra. Assim, é competente para abençoar na congregação, embora não tenha ali relação eclesiástica regular; tem o poder sobre todas as coisas e a plenitude do Espírito - possui estas duas coisas na perfeição. Seja a Igreja o que quer que seja, eis o que Ele é, Ele! A Igreja não pode falhar na sua posição de testemunha; falhando, revela uma falta de plenitude da graça em Cristo. E Ele não pode faltar àquele que tem ouvidos para ouvir.

Mas o estado da igreja mostra que ela estava longe de aproveitar desses recursos. Tinha, é certo, o nome de que vivia; nas suas pretensões, era superior ao mal que campeava em Tiatira; em Sardes, não se encontrava Jezabel nem a corrupção, mas, praticamente, a morte estava lá. As suas obras não eram completas perante Deus. Não se tratava do mal, mas de falta de energia espiritual; e o resultado disso era que os indivíduos sujavam as suas vestes em contato com o mundo. Sardes era convidada a lembrar-­se, não das suas primeiras obras, mas sim do que tinha recebido e ouvido, da verdade que lhe tinha sido confiada - o Evangelho e a Palavra de Deus. De outro modo, seria tratada como o mundo. O Senhor viria como um ladrão porque agora a vinda do Senhor está sempre iminente.

De modo nenhum encontramos aqui a ameaça de tirar o castiçal. Isso era um assunto há arrumado. O Juízo tinha sido pronunciado, o pôr de lado da igreja era coisa assente. O corpo de professantes (em Sardes) devia ser tratado como o mundo, e não eclesiasticamente, como uma congregação corrompida (comparar com a 1 Tessalonicenses 5: 1-3). No entanto, vemos que alguns guardam a sua integridade e são reconhecidos; andam com Cristo, como tendo praticado a Justiça. Também ali vemos a promessa: Confessaram o Nome de Cristo diante dos homens, diante do mundo, e o nome deles será confessado diante de Deus, quando a assembléia for tratada como o mundo. São verdadeiros Cristãos, no meio de uma assembléia mundana, e os seus nomes não terão apagados do registro, agora mal sustido sobre a Terra, mas que será retificado, de uma maneira infalível, pelo Julgamento celestial.

Notamos já que, quando a vinda do Senhor é introduzida, a advertência dirigida àqueles que têm ouvidos para ouvir vem depois dos vencedores terem sido distinguidos dos outros. É somente este Remanescente que o Senhor tem em vista. Não posso duvidar de que, em Sardes, temos o Protestantismo.

A igreja de Filadélfia apresenta um caráter particularmente interessante. Nada nos é dito das suas obras, a não ser que Cristo as conhece; mas o que é impressionante nela é a sua associação muito especial com o próprio Cristo. Tal como em Sardes e em Laodiceia, Cristo, em Filadélfia, não é visto sob os caracteres de que está revestido, quando anda no meio das igrejas, mas sim sob um caráter que a fé reconhece, quando a organização eclesiástica se toma o foco da corrupção. Temos aqui o Seu caráter pessoal, o que está em sintonia Consigo mesmo, o Santo e o Verdadeiro, o que a Palavra manifesta e requer, e o que a Palavra de Deus e em si mesma - um caráter moral e a fidelidade. Na realidade, esta última palavra encerra tudo: A fidelidade a Deus, interior e exteriormente, de harmonia com o que é revelado; e a fidelidade para realizar tudo o que Ele declarou.

Cristo é conhecido como o Santo. Portanto, as pretensões ou as associações eclesiásticas exteriores não servem para nada. Deve haver o que convém à Sua natureza, e a conformidade fiel a esta Palavra, que Ele certamente cumprirá. Ao mesmo tempo, Ele tem na Sua mão a administração: Abre, e ninguém fecha; fecha, e ninguém abre. Vejamos qual foi o Seu caminho sobre a Terra: Tendo querido, na Sua graça, vir daquela maneira, era então simplesmente dependente, como nós próprios somos. Era Santo e Verdadeiro. Aos olhos do homem, tinha pouca força, mas guardava a Palavra e vivia de toda a palavra que saía da boa de Deus. Esperava pacientemente no Eterno, e era a Ele que o porteiro abria. Vivia os últimos dias de uma dispensação; Ele, o Santo e o Verdadeiro, era rejeitado, e, aos olhos da Humanidade, não obteve nenhum resultado do Seu trabalho junto daqueles que se diziam Judeus, mas que eram a sinagoga de Satanás. Em Filadélfia, sucede o mesmo com os santos: Andam num meio semelhante àquele em que Cristo Se encontrava; guardam a Sua Palavra, têm pouca força, não são distinguidos, como Paulo, pela energia do Espírito, mas não renegam o Seu Nome. É este o caráter e o móbil de todo o seu procedimento. Cristo é abertamente confessado. A Palavra é guardada, e o Nome de Cristo não é negado. Isto pode parecer pouca coisa, mas no declínio universal, no meio de tantas pretensões eclesiásticas, quando um grande número se perde nos raciocínios humanos, guardar a Palavra daquele que é Santo e Verdadeiro, não renegar o Seu Nome, é tudo! Mas é mencionado ainda um outro elemento: Cristo o Santo é o Verdadeiro, espera! Aqui, na Terra, esperava pacientemente no Eterno. É o caráter de uma fé perfeita. A fé tem um duplo caráter: a energia que ultrapassa os obstáculos, e a paciência que espera em Deus e se confia a Ele (para o primeiro, ver Hebreus 11:23-24; para o segundo, ver os versículos 8 a 22). É este último caráter que temos aqui: a palavra de paciência é guardada.

As promessas são feitas em relação com essas qualidades distintas de guardar a Palavra e de não negar o Nome de Cristo, embora tendo pouca força em presença das pretensões eclesiásticas e uma religião de sucessão estabelecida por Deus. Cristo forçará aqueles que pretendem uma sucessão divina, a virem e a reconhecerem que Ele tem amado os que guardam a Sua Palavra! No presente, era dada uma porta aberta a Filadélfia, e ninguém podia fechá-la, tal como o porteiro tinha aberto a Cristo, de sorte que nem os fariseus nem os sacerdotes podiam entravá-la. No porvir, aqueles que se dizem Judeus e não o são, esses pretendentes a uma ordem de sucessão divina, terão de se humilhar e de reconhecer que aqueles que seguiram a Palavra do Santo e do Verdadeiro eram os que Cristo amava. Esperando, a sua aprovação lhes bastava. Esta é a pedra-de-­toque da fé: ficarmos satisfeitos com a aprovação, contentando­-nos com a autoridade da Sua Palavra.

Mas havia também uma promessa em relação com os Julgamentos que o Senhor deve executar sobre a Terra. Cristo espera até que os Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés, e nós devemos esperar esse momento para vermos o mundo posto em ordem. Por enquanto, temos de continuar a andar onde o deus deste mundo exerce o seu poder, embora sob controle divino. Crer que podemos manter os nossos direitos neste mundo é esquecer a Cruz e o Cristo. Não podemos pensar nos nossos direitos enquanto os Seus não forem plenamente reconhecidos, porque nós não temos outros direitos além de Cristo. O Juízo, depois que Pilatos entregou Cristo, para ser crucificado, ainda não veio. Até lá, Cristo espera à direita de Deus - e nós esperamos também. Filadélfia não tem, como Smirna, de sofrer a perseguição e o martírio, mas tem, talvez, uma tarefa não menos difícil. Em todo o caso, eis a nossa tarefa de agora: Ser pacientes e estar satisfeitos com a nossa aprovação por Cristo, guardando a Sua Palavra e não renegando o Seu Nome.

Mas há outros preciosos estímulos: Uma hora de tentação deve vir sobre toda a Terra para provar os que pertencem à T erra, que nela habitam como pertencendo-lhe. Alguns, vitoriosos da provação, poderão ser poupados; mas aqueles que guardam a palavra da paciência de Cristo serão guardados dessa hora. Ela virá sobre toda a Terra - e onde estarão eles então? Fora do mundo, ao qual não pertenciam quando ali estavam. Esperavam que Cristo tomasse o Seu poder; esperavam o tempo em que o mundo seria dEle! Pertenciam ao Céu, Àquele que ali está, e foram tomados para estarem com Ele, antes de esse tempo de terrível provação vir sobre o mundo. Haverá um tempo de excepcional angústia antes de Ele tomar o Seu poder; mas eles não só reinarão com Cristo quando o resultado final tiver sido alcançado, mas também serão guardados dessa hora, dela tendo a segurança no tempo da provação. E é por isso que o Senhor lhes mostra a Sua vinda como sendo a esperança deles, e não como uma advertência dada aqueles que não se arrependem, para lhes dizer que, quando da Sua aparição, eles serão tratados tal como o mundo. Cristo virá em breve, e os fiéis devem estar atentos, para que ninguém temo a sua coroa. Devem manter firme o que já possuem. São fracos, é verdade, mas, mesmo assim, estão espiritualmente associados a Cristo.

Agora nós temos a promessa que lhes é feita, promessa geral, cujo cumprimento está nos lugares celestiais, e é caracterizada pela associação especial com Cristo; são publicamente reconhecidos como possuindo aquilo que de modo nenhum pareciam possuir sobre a Terra. Os outros tinham a pretensão de serem o povo de Deus, a cidade de Deus, de terem um título religioso divino; eles tinham sido apenas fiéis à Sua Palavra, e esperavam Cristo. Agora, quando Cristo toma o Seu poder, e que as coisas são manifestadas na sua perfeita realidade, de harmonia com Ele em poder, tendo essa posição segundo Deus, são reconhecidos como sendo eles o povo de Deus, a cidade de Deus! Neste mundo tinham tido a cruz e o desprezo; no Céu, o Nome de Deus e da cidade celestial é o caráter impresso sobre eles!

Examinemos agora a promessa feita aqui aos vencedores: Aquele que tinha pouca força é uma coluna no templo de Deus em Quem e por Quem é abençoado! Na Terra, talvez tivesse sido considerado como estando fora da unidade e da ordem eclesiásticas; no Céu, é uma coluna delas, e delas já não sairá! Sobre ele, que era apenas reconhecido para ter parte na graça, é impresso, na glória, o Nome do seu Deus Salvador rejeitado! Sobre ele também, que era apenas contado como pertencendo à cidade santa, é escrito o nome celeste dessa cidade, assim como o novo Nome de Cristo, nome desconhecido dos profetas e dos Judeus segundo a carne, mas que tomou como morto para este mundo (no qual se estabeleceu a falsa igreja), e como ressuscitado e entrado na glória celestial. É impressionante ver o cuidado com que é indicada aqui a associação com Cristo; é o que dá à promessa o seu caráter. "O templo do meu Deus", diz Cristo; "o nome do meu Deus", o' "da cidade do meu Deus"; "o meu novo Nome". O vencedor foi associado à própria paciência de Cristo, e Cristo confere-lhe o que o associa plenamente à Sua própria bênção com Deus. Isto é mui particularmente precioso e pleno de estímulo para nós.

Em seguida vem Laodicéia.

A tepidez é o que caracteriza o último estado da profissão na Igreja, que tal se toma para Cristo, que deve vomitá-la da Sua boca. Não é a simples falta de poder, mas sim a falta de ânimo, que é o pior de todos os males. Esta ameaça, e absoluta, e não condicional. Supõe que a rejeição é irremediável. Com essa falta de coragem para Cristo e para o Seu serviço, vemos,  nos de Laodicéia, muita pretensão à posse de recursos e de capacidades próprios: "Eu sou rico", dizem eles, mas não têm nada de Cristo. É a igreja professante dizendo-se rica, sem ter Cristo como riqueza de alma para a fé. É por isso que Ele os aconselha a comprarem dEle a verdadeira e aprovada Justiça, um vestido para cobrirem a sua nudez moral, e o que dá a vida espiritual, porque pelo que se refere ao que Cristo é e dá perante Deus, eles eram rnui particularmente pobres, nus e miseráveis. Tal é o Juízo que Cristo lança sobre as suas pretensas riquezas, sobre o que eles imaginam ter adquirido segundo o homem. Todavia, enquanto a Igreja subsistir, Cristo continua a agir em graça: Está à porta e bate; insiste, da maneira mais premente, junto da consciência, para ser Ele mesmo recebido. Se, naquilo que Ele está ao ponto de vomitar da Sua boca, se encontrar ainda alguém que ouça a Sua voz e abra, admiti-lo-á para estar com Ele, e dar-lhe-á uma parte no Reino.

Não se trata aqui da vinda do Senhor, como no caso do Julgamer.tc de Jesabel.

Praticamente, esta era Babilônia, que é julgada antes de Cristo vir. Laodicéia é vomitada da boca de Cristo, rejeitada como indigna, mas o conjunto do corpo é julgado como o mundo. A vinda do Senhor a Tiatira, como a Filadélfia, é para os santos. É somente assim que ela é considerada em relação com a Igreja. Sardes, se não se arrepender, é reduzida à condição do mundo, e como tal julgada. Quando chega o estado caracterizado por Laodicéia, a assembléia é reprovada e rejeitada por Cristo, nesse caráter, mas, para isso, não há necessidade da Sua vinda. Embora Tiatira vá até ao fim e termine eclesiasticamente a História da Igreja, não é senão nas três primeiras congregações que a Igreja, no seu conjunto, é tratada como tendo de se arrepender. Em Tiatira, foi dado tempo a Jezabel para se arrepender, mas ela não o fez. A cena fecha-se para a Igreja sobre a Terra e é substituída pelo Reino. Sob este aspecto, as últimas quatro igrejas vão juntas. Não há nenhuma perspectiva de arrependimento nem de restauração de toda a Igreja.

Sardes é chamada ao arrependimento e a guardar; deve lembrar-se do que recebeu. Mas, se não vigiar, deve ser tratada como o mundo. É por isso que, como temos visto, a chamada a ouvir é dirigida aos vencedores, após a promessa.

O caráter de Cristo, em relação a Laodicéia, não pode ser passado em silêncio. Manifesta a passagem dos diversos estados da Igreja à autoridade de Cristo sobre o mundo, acima e além da própria Igreja. Cristo, em Pessoa, retoma o que a Igreja deixou de ser. Ele é o Amém, Aquele em Quem se realizam e são tornadas verdadeiras todas a promessas; a Testemunha real e o revelador de Deus e da verdade, quando a Igreja o não é; o princípio da Criação de Deus - Cabeça sobre todas as coisas - e a glória e o testemunho do que é a nova Criação como sendo de Deus. A Igreja deveria ter manifestado o poder da nova Criação pelo Espírito Santo, porque, se alguém está em Cristo, nova criatura é, onde todas as coisas são de Deus. Nós, que dela somos as primícias, somos criados de novo nEle. A Igreja tem assim as coisas que permanecem (2 Coríntios 3). Mas ela foi uma testemunha infiel; se ali tem uma parte, é porque Cristo possui todas as coisas. Ele é o verdadeiro princípio delas, como as tendo realmente manifestado. Tendo falhado a testemunha responsável por essas coisas (responsabilidade que lhe foi outorgada pelo Espírito Santo), Cristo as retoma e é introduzido para as manifestar de uma maneira efetiva.

 

Auxílio ou empecilho perante o mundo