EPÍSTOLA AOS HEBREUS – CAPÍTULO 13

“ESTUDOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS”
tradução de “Synopsis of the Books of the Bíble” – John Nelson Darby

EPÍSTOLA AOS HEBREUS – CAPÍTULO 13

 

Neste capítulo, há mais de uma verdade que importa assinalar. As exortações são tão simples quanto importantes e não exigem muitas explicações. Ficam nos limites da esfera de toda a Epístola - esfera compreendendo o que se refere ao caminho do Cristão na sua marcha neste mundo, e não o que decorre da sua união com Cristo nos lugares celestiais. O amor fraternal, a hospitalidade, os cuidados com os prisioneiros, a estrita manutenção dos laços do matrimônio e a pureza individual, guardando-se da avareza, tais são os termos da exortação, todos importantes e ligados ao comportamento de um Cristão, que caracteriza um espírito de graça. Mas não são tirados das fontes nem dos princípios mais elevados e mais celestes da vida cristã, tal como os vemos nas Epístolas aos Efésios e aos Colossenses. As exortações não são mesmo como as da Epístola aos Romanos, embora se lhes assemelham mais. Com efeito, é, em geral, à vida de Cristo neste mundo que esta última Epístola dá mais atenção, apresentando-nos a ressurreição de Cristo, sem, contudo, ir até à Sua ascensão. (1) As exortações que se seguem referem-se às circuns­tâncias em que se encontravam os Hebreus e dizem respeito à abolição e ao Julgamento, então próximos do Judaísmo, do qual eles tinham agora de se separar definitivamente.

Exortando-os (v. 7) a lembrarem-se daqueles que tinham conduzido o rebanho, a Epístola fala dos condutores que tinham já partido para a eternidade; porém, no versículo 17 fala dos vivos. O resultado da fé deles era um bom encorajamento, para que outros seguissem o seu exemplo, segundo os princípios da fé que os tinham levado a esse bom resultado.

Em seguida, o autor recorda que Cristo não muda: Ele é o mesmo ontem, hoje, e eternamente (v.8). Ele quer que permaneçamos na simplicidade e na integridade da fé. Nada, mais que a procura inquieta de algo de novo, "das doutrinas várias e estranhas", demostra que o coração não possui, na prática, o que dá o descanso em Cristo, que não concebe corretamente o que é Cristo. Crer no conhecimento de Cristo é a nossa vida e o nosso privilégio; a procura de novidades a Ele estranhas é uma prova de que Ele não nos satisfaz. Ora, aquele que não se contenta com Jesus não O conhece, ou, pelo menos, esqueceu-O. É impossível gozar do Seu amor sem se sentir que Ele é tudo para nós, isto é, que Ele nos satisfaz, excluindo, por Sua natureza, qualquer outra coisa.

Quanto ao Judaísmo, onde os Hebreus estavam naturalmente dispostos a procurar a satisfação da carne, o apóstolo vai mais longe: Eles já não eram Judeus, tendo o verdadeiro culto de Deus, culto privilegiado, no qual outros não tinham o direito de participar; o altar divino pertencia agora aos Cristãos; só eles tinham o direito de ali terem a parte. Um culto terrestre, onde se não entrava adentro do véu, mesmo em presença de Deus, no santuário; um culto que tinha a sua glória mundana, que estava agarrado aos elementos deste mundo e aqui encontrava o seu lugar, já não podia subsistir. Nós agora ou estamos no Céu, ou sob a Cruz e sob o opróbrio. O grande sacrifício pelo pecado foi realizado; mas esse sacrifício, pela sua eficácia, introduz no santuário, no próprio Céu, aonde o sangue foi levado; e, por outro lado, tira-nos para fora do campo, para fora de um povo religioso ligado a este mundo, e nós encontramo-nos assim no opróbrio, na rejeição sobre a Terra. É a parte do Cristo. No Céu, Ele é aceito; entrou ali pelo Seu próprio sangue. Na Terra, foi lançado fora e desprezado.

1) Não se fale da ascensão senão no capítulo 8, verso 34, além de uma breve alusão no capítulo 10, verso 6.

Uma religião mundana que consista num sistema onde o mundo pode andar e onde o elemento religioso é adaptado ao homem sobre a Terra, é a negação do Cristianismo.

Nós não temos cidade permanente neste mundo; procuramos a que é vindoura. Por Cristo, oferecemos os nossos sacrifícios de ações de graças e de louvores; repartimos os nossos bens com os outros mais necessitados, praticamos o bem, oferecemos sacrifícios nos quais Deus tem prazer (v. 16).

Em seguida, os crentes são exortados a obedecer àqueles que velam pelas suas almas, como responsáveis perante Deus, e que vão à frente dos santos, para os conduzirem. Esta obediência é uma prova de um espírito humilde de graça, que não procura senão agradar ao Senhor.

O sentimento desta responsabilidade faz com que Paulo peça as orações dos santos, mas acrescentando que está certo de ter uma boa consciência. Servimos a Deus, atuamos para Ele; quando Ele não é obrigado a atuar sobre nós; quer dizer, o Espírito de Deus atua por nosso intermédio, quando não tem de nos ocupar de nós próprios. Neste último caso, não poderíamos pedir as orações dos santos como obreiros; não podemos considerar­-nos obreiros para Deus, quando o Espírito nos trabalha na nossa consciência. Quando a consciência é boa, podemos pedir as orações dos santos, sem dissimulação. O apóstolo pedia-as, tanto mais que esperava desse modo voltar a vê­-Ios mais cedo.

Enfim, Paulo deseja aos Hebreus a bênção. Dá a Deus o título que Lhe atribui muito freqüentemente, o de "Deus de paz". No meio dos exercícios de coração a respeito dos Hebreus, no meio dos raciocínios para preservar o amor deles do esfriamento, no meio das incertezas morais que enfraqueciam a marcha desses cristãos, e das suas provações, quando se desmoronava o que eles consideravam como estável e santo, esse título tem um caráter particularmente precioso.

O Espírito coloca-nos também em presença de um Cristo ressuscitado, de um Deus que tinha fundado e assegurado a paz na morte de Cristo, e disso tinha dado a prova na Sua ressurreição; tinha-O ressuscitado de entre os mortos, segundo o poder do sangue da Aliança eterna (2). Sobre esse sangue o povo crente podia fundar uma esperança que nada seria capaz de abalar. Porque não eram, como o Sinai, promessas estabelecidas sob condição da obediência do povo, mas uma esperança fundada sobre o resgate pago, sobre a perfeita expiação da desobediência deles. Era assim uma bênção imutável; a Aliança (tal como a herança e a redenção) era eterna. O autor da Epístola pede que o Deus que tinha operado tais coisas atue agora nos crentes Hebreus para lhes conceder a plena força e a energia para o cumprimento da Sua vontade, operando Ele mesmo neles o que Lhe era agradá­vel.

Exorta-os a escutarem a exortação, pois não lhes tinha enviado senão algumas palavras. Quer que os Hebreus saibam bem que Timóteo tinha sido posto em liberdade. O próprio apóstolo o tinha sido já; estava em Itália.

Estas circunstâncias tendem a confirmar o pensamento que foi o apóstolo Paulo quem escreveu esta carta, ponto muito interessante, embora não mude em nada a autoridade da própria Epístola, porque é o Espírito de Deus que por toda a parte da a Sua própria autoridade à Palavra de Deus.

2)A palavra “eterno” é característica na Epístola aos Hebreus, em contraste com sistema que desaparecia. Esta Epístola fala de uma redenção eterna, da herança eterna e mesmo do Espírito eterno.