CRISTO, O NOSSO EXEMPLO

CRISTO, O NOSSO EXEMPLO

“agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu”  (Salmo 40:8)

Enquanto eu considerava as tentações sofridas por nosso Senhor Jesus no deserto, o caráter da primeira delas chamou-me a atenção. Já que, como o Senhor é, assim também somos nós neste mundo (1 Jo 4: 17), então a reação do Senhor àquelas tentações deveria ser um guia valioso para minha própria conduta. A segunda e a terceira tentações (a ordem de Mateus é diferente da apresentada por Lucas) parecem ter respostas óbvias: É claro que ninguém tem primeira tentação? Uma pessoa não tem o direito de prover suas necessidades diárias utilizando as habilidades pessoais dadas por Deus?

Alguns dizem que o Senhor recusou-se a fazer pão porque Ele nunca usaria Sua habilidade em benefício próprio. Embora possa existir alguma verdade nessa afirmação, não é este o motivo sugerido pela resposta do Senhor. Talvez esperaríamos que a resposta dada pelo Senhor a Satanás solucionasse nossa questão. Eu gostaria de perguntar:

"Quem dentre nós teria interpretado a Palavra de Deus que diz: "Não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor, disso viverá o homem" (Dt 8:3) como significando que uma pessoa não tem licença para prover seu próprio alimento?" Sejamos honestos, certamente poucos dentre nós. Para entendermos a resposta de nosso Senhor, obviamente necessitamos focalizar mais nitidamente na Pessoa de nosso Senhor e Salvador.

Na ocasião em que a grande decisão sobre a vinda do Senhor a esta terra foi tomada, Ele falou:

"Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a Tua vontade" (Hb 10:9). Durante muito tempo, entendi esta declaração como significando: "Eu vou para morrer na cruz." Hoje, creio que isto é apenas parcialmente correto. O Senhor queria dizer exatamente aquilo que Ele disse. Ele veio para fazer a vontade de Deus. Quando Deus criou esta terra, Ele aqui colocou Adão como Seu representante e o fez à Sua semelhança. Tal semelhança deveria ser expressa por uma harmonia completa entre as ações de Adão e a vontade de Deus. Adão, em nada, deveria desviar-se da vontade de Deus; era assim que Deus desejava que fosse. Que diferença do modo como tudo veio a acontecer! Então, após Deus ter testado completamente o homem, quando já havia abundância de evidências de que não existia ninguém que fizesse a vontade de Deus, o Senhor Jesus pronunciou as palavras que acabamos de citar. Ele seria Aquele que faria a vontade de Deus. Ele a cumpriria até mesmo nos mais ínfimos detalhes de Sua vida. Em Suas ações, em Sua fala, em Seus pensamentos, em tudo Ele havia prometido fazer a vontade de Deus - inclusive no que dizia respeito à cruz.

Disto, Satanás parecia ser conhecedor. Ao menos, ele imediatamente se esforçou para tentar fazer tropeçar o Senhor Jesus. Que maneira mais sutil a de vir com uma sugestão legítima que, aparentemente, nada tinha de mal, mas que na verdade intentava roubar a Deus Sua glória. Afinal, não é verdade que utilizar­-se simplesmente das habilidades dadas por Deus para prover as necessidades da vida é considerado uma virtude? Não se tratava de vangloria, pois o Senhor encontrava-se totalmente só. Não se tratava de luxuria, pois após quarenta dias de jejum, a alimentação é uma necessidade essencial à vida. O uso das habilidades que Deus nos dá, de modo útil, honra a Deus. Por que, então, o Senhor não seguiu a sugestão de Satanás?

Faço estas perguntas, pois estou convencido que muitos dentre nós têm falhado em circunstâncias similares, eu inclusive. Em determinadas circunstâncias, como tudo nos parecia razoável, nós, freqüentemente, fizemos o que estávamos capacitados a fazer, sem imaginar que fora exatamente aquilo o que nos levou à derrota. É muito fácil dizer: "É óbvio que o Senhor recusou-se a fazer pão," enquanto que nós mesmos, vez após vez, não nos damos conta do quão freqüentemente "fazemos pão".

Para que o Senhor pudesse cumprir Sua promessa a Seu Deus, de modo adequado, Ele, continuamente, tomou o lugar de Homem dependente. Todas as manhãs Seus ouvidos estavam alertas ao comando de Deus (ls SOA). Na manhã Ele orava a Seu Pai (SI 5:3; 88: 13; Mc 1 :35); em tempos de dificuldade, Ele orava {Mt 14:23; Lc 6:12}. O Senhor Jesus mantinha-se em constante comunicação com Deus. Isto é instrução valiosa para nós. Se Ele que é Deus mas que, voluntariamente, havia tomado o lugar de sujeição - carecia desta constante comunicação para estar capacitado a andar nesta terra como tal havia prometido que faria, quanto mais nós necessitamos desta comunicação? Não nos esqueçamos que devemos ser como Ele é! Nós também devemos fazer somente a vontade de Deus, e nada além disso. Se nos sentirmos inclinados a dizer: "Não podemos," então devemos nos lembrar que o Espírito Santo habita em nós, e Ele está permanentemente pronto a nos guiar sempre que O busquemos para as respostas.

Voltando, agora, à tentação, vemos outro aspecto. O Senhor respondeu cada uma das tentações com uma citação das Escrituras. Embora tenhamos expressado surpresa diante da primeira delas, ao menos entendemos que a Sua repetição contínua das passagens Bíblicas nos fornece uma chave importante para sabermos como o Senhor conduzia Sua vida. Ela era inteiramente baseada em Sua comunicação com Deus, e a Palavra de Deus era Sua fonte primordial para conhecer a vontade de Deus. Toda ação que Ele tomou ou deixou de tomar, foi substanciada a partir das Escrituras. Isto requeria um conhecimento profundo das Escrituras. Ele, sendo Seu Autor, a conhecia, obviamente. Para nós atingirmos esse nível, precisamos ler a Bíblia inúmeras vezes para Aprendemos tanto das Escrituras quanto for nossa capacidade. Lemos a Palavra de Deus o suficiente para podermos, diariamente, fazer apenas a Sua vontade ? Conhecemos, não apenas os mandamentos de Deus mas também Seus desejos para aquelas coisas que apenas serão descobertas pelos que, fielmente, buscam a Sua vontade?

Agora a resposta do Senhor à primeira tentação torna-se muito mais clara. As palavras do Senhor assumem o sentido: "Minha vida não depende meramente de pão, Minha vida depende primeiramente das instruções que Eu recebo de Deus. O pão pode ser fisicamente necessário, mas se Deus não Me instruir a provê­-10, Eu perderia a preciosa harmonia que gozo com Ele. Apenas desejo fazer a Sua vontade, e como Ele ainda não falou, esperarei pela Sua palavra."

O leitor deseja saber que ajuda prática eu recebi disto? Recentemente, esta tentação instruiu-me acerca da liberdade cristã. O cristão possui liberdade para agir do modo como melhor lhe parece? Todos os usos das habilidades dadas por Deus seriam, necessariamente, de Seu agrado? Fazer o que nos parece melhor seria sempre o melhor caminho a seguir? A estas perguntas importantes a primeira tentação de Cristo nos fornece o exemplo. Devo ser sempre dirigido pela Palavra de Deus se desejo andar conforme a Sua vontade. Isto concerne minha conduta individual, e conseqüentemente, também concerne nossa conduta coletiva dentro da Assembléia.

O cristão não está sob a lei.

Isto significa, primeiramente, que ele não está ligado à lei do Sinai (sua vida deve ser conduzida pelo Espírito Santo, e o resultado disto será bem melhor do que o que seria alcançado por guardar a lei). Em segundo lugar, também significa que o cristão não enxerga o Novo Testamento como um volume de permitidos e não permitidos, ao contrário, ele busca no Novo Testamento os desejos de Deus que não estão expressos por "faça" ou "não faça". É exatamente porque o Senhor usou a Palavra de Deus de tal modo que Deuteronômio 8:3 O guiou. Ninguém poderia dizer que tratava-se de um mandamento para não fazer pão. Ao contrário, trata-se de uma instrução que nos diz o que realmente tem valor. Sua consequência para o Senhor foi não fazer pão já que Deus não Lhe havia dito para fazê-lo. Direção semelhante deveria ter também para nós. Embora tenhamos nossas habilidades e liberdades, devemos estudar a Palavra de Deus se desejamos conhecer Seus desejos, especialmente, aqueles não expressos sob a forma de comando.

Davi constitui um lindo exemplo. Enquanto adolescente, ele buscou a vontade de Deus que não estava expressa nas determinações. Ele havia lido em Deuteronômio 12:5-6 que havia um lugar onde Deus poria o Seu nome. Ninguém em Israel havia perguntado onde seria tal lugar, nem Deus tampouco havia dito nada além daquilo. Silo havia sido abandonada, mas onde seria aquele lugar escolhido por Deus? Este pensamento ocupava a mente de Davi, tirando-lhe o sono enquanto pastoreava as ovelhas em Efrata (SI 132). Deus, vendo o desejo de Davi de fazer a Sua vontade, chamou-o de "um homem que Lhe agrada" (1 Sm 13:14). Isto me ensina que se desejo ser um homem segundo o coração de Deus, meu desejo deve ser descobrir a vontade de Deus, não apenas em Seus mandamentos, mas em tudo que Ele deixou registrado em Sua Palavra. Como estou livre das garras do pecado, que, essencialmente, consistia em fazer a minha própria vontade (gozar de minha "liberdade"), agora estou livre para fazer a vontade de Deus. O Espírito de Deus que vive em mim guiar-me-á, e enquanto eu Lhe entregar o controle, gozarei de uma liberdade jamais experimentada por aqueles que não estão em Cristo. "Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade". A prova disto é que serei transformado à imagem de meu Salvador (2 Co 3:17-18). Então, e somente então, poderei ter minha esperança de cumprir as expectativas que Deus tem para todos aqueles que são libertados pelo precioso sangue do Senhor Jesus.

Estes pensamentos assumiram um significado especial dentro do contexto da liberdade cristã. Talvez todos nós já tenhamos nos perguntado: "O que pode estar errado com isso, ou com aquilo?" Quando assim questionamos, buscávamos nossa liberdade pessoal. Como fica esta orientação em comparação ao enfoque do Senhor Jesus? O Senhor teria respondido do modo como fez se tais perguntas estivessem em Sua mente? Que enorme diferença entre buscar o conhecimento da vontade de Deus e buscar os limites até onde podemos ir! A primeira orientação guiar-me-á Àquele que me amou, a segunda, na melhor das hipóteses, não me aproximará nem um pouco mais dEle. Ao contrário, infelizmente, distanciar-me-á ainda mais de Deus. A eventual falta de entendimento de minha parte na busca da vontade de Deus nunca me levará para longe do Senhor, enquanto que um julgamento errôneo na busca da liberdade, geralmente, me conduzirá para mais longe dEle. Não foi isso que aconteceu com Israel, que quando buscaram aquilo que lhes parecia correto, caíram nas piores formas do mal? Foi a sua orientação o que causou tais males.

Cheguei à seguinte conclusão:

Duas pessoas estão fazendo a mesma coisa, uma delas busca a vontade de Deus, mas não entende perfeitamente os pensamentos de Deus (2 Sm 6:3), a outra busca a sua assim-chamada liberdade cristã. A última destas será arrastada para longe de Deus, a primeira irá, pela graça de Deus, encontrar o compasso certo do pulsar do coração de seu Salvador. Não se trata, basicamente, de uma questão do que está sendo feito (não estou dizendo que isto não seja importante!) mas sim de qual a condição do coração que está levando alguém a agir do modo como age. Considerando tais fatos, seremos cuidadosos em almejar a vontade de Deus ao invés de buscar nossa própria liberdade. Nosso único desejo será conhecer aquilo que agrada e honra a Deus.

Após ter dito tudo isso, devo reconhecer que eu, assim como outros, ainda tenho muito a aprender; entretanto, tal deficiência jamais deveria levar­-me a rebaixar o padrão divino. Nem tampouco mudar meu desejo de ser como meu Senhor. Isso somente me estimula a orar para que tais coisas possam ser realizadas em mim enquanto ainda estou aqui, para honrá-LO no lugar onde Ele foi rejeitado. Espero que esta também seja sua esperança. Oremos uns pelos outros!

"O que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?"

Miquéias 6:8

Van Dijk Come & See Magazine

 

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