AJUDA ou ESTORNO

AJUDA ou ESTORNO

 

"Ela tem sido o amparo de muitos" (Romanos 16:2 - VR).

Não façais "tropeçar a um destes pequeninos" (Mateus 18:6).

"Para não servir de tropeço a meu irmão"(l Coríntios 8:13- VR).

 

Romanos 16:1-2 nos fala de Febe, cujo nome significa "resplandecente". Diaconisa ou servidora da igreja que estava em Cencréia, ela havia ajudado a muitos e também ao próprio apóstolo Paulo. Os quinze primeiros versículos deste capítulo são como uma amostra do tribunal de Cristo, no qual será manifestado todo o bem que o Senhor teve oportunidade de produzir em cada um dos Seus como também as faltas, para que tenham consciência da graça que as apagou mediante o sangue de Cristo.

Não é comum haver numa igreja local crentes ativos, outros que não fazem nada e alguns que até fazem sofrer os demais?

É provável que Febe tenha sido a portadora dessa epístola aos crentes de Roma tão essencial para a fé cristã. Os dois primeiros versículos são como uma carta de recomenda­ção, na qual o apóstolo pede que ela seja recebida "no Senhor" e ajudada" em tudo que de vós vier a precisar" .

Em muitas ocasiões, a Palavra de Deus nos fala de ser "auxílio" e, mais ainda, de "auxiliar". Deus dá auxílio, como diz o salmista em Salmos 33:20: "Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo". Em outros casos, o auxílio é o Senhor, como, por exemplo, em Hebreus 13:6: "O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?". Em Romanos 8:26 lemos: "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza". Já no princípio da Bíblia encontramos estas palavras:

"Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). O homem só, mesmo no Éden tem necessidade de ser auxiliado:

E esta é a primeira missão confiada à esposa.

Assim como temos o privilégio de auxiliar, também podemos ser um estorvo - causa de queda. "Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar" (Mateus 18:6). É um versículo sério, solene. É temível ser motivo de queda para "um destes pequeninos que crêem em mim", quer seja uma criança, um jovem, quer alguém que acaba se de converter. Também se pode ser "tropeço" ou "escândalo" para um irmão (1 Coríntios 8:9 e 13). 

Se pensarmos em tantos crentes que temos encontrado ao longo de nossa vida, jovens ou adultos, poderemos nos perguntar: "O que têm sido para mim: auxílio ou estorvo? E eu, que tenho sido para eles?". Se olharmos para trás..., quantas recordações! Nossos pais oraram por nós e nos ensinaram a Palavra cada dia de nossa infância e juventude. Algumas orações foram atendidas, enquanto outras, Deus responderá um dia, segundo Sua graça. Talvez algum irmão ou irmã nos tenha comunicado uma palavra apropriada, um conselho. Quem sabe houve uma conversa com um irmão de mais idade que nos marcou bastante. E nós, que influência, consciente ou inconscientemente, exer­cemos sobre nosso próximo nas várias etapas de nossa vida? Temos nos empenhado em fazer "o que é agradável ao Senhor"? O nosso exemplo serviu de enco­rajamento? Temos aproveitado as ocasiões para dizer uma palavra "agradável, temperada com sal"? (Efésios 5:10; Colossenses 4:6).

O nosso caminho, a nossa maneira de viver e o nosso caráter estão de acordo com o que professamos? "Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço"(l João 2:9-10). Qual é a nossa atitude quando o Senhor nos dá oportunidade de ajudar alguém? Lemos, na primeira epístola de João, de vida (interior), de luz (exterior) e de amor (que procede do coração).

Muitas vezes, até sem que soubéssemos, orações subiram ao trono da graça para que Deus nos ajudasse no momento oportuno e segundo a Sua sabedoria. E nós? Quantas vezes oramos em favor de nossos irmãos, de nossa família, nossos amigos ou dos servos do Senhor?

Na seqüência, veremos em que esferas se exerce essa influência, seja em forma de ajuda ou de estorvo, na família, no grupo de amigos, na igreja local, no mundo que nos rodeia, em nossos irmãos na fé, tanto nos que estão próximos como nos que estão longe.

Em Êxodo 12, na ocasião da oferta do cordeiro pascal, se a "família" fosse pequena para aproveitar todo o cordeiro, este devia ser compartilhado com o vizinho mais próximo, "conforme o número das almas" (v.4). Que exemplo para uma igreja local pequena, onde o ato de compartilhar o espiritual pode ajudar a cada irmão ou irmã!

Por que meios podemos ajudar ou servir de estorvo?

Primeiramente, pelo caráter:

Deus não escolhe sonhadores para o serviço, mas, sim, pessoas de" caráter" . Jesus chamou João de Boanerges (que quer dizer "filho do trovão"). Ele tinha um propósito: na escola de Deus, João se converteria no apóstolo do amor. Para se formarem, muitos homens de "caráter" foram postos à parte por Deus durante algum tempo. Moisés, com o gado no deserto (Êxodo 3: 1); Davi, durante os anos em que fugiu de Saul (1 Samuel 18 a 26); Eliseu, derramando água sobre as mãos de Elias (2 Reis 3: 11).

Todos aprenderam a ser pacientes, sua personalidade moral e espiritual se desenvolveu; e, terminada essa etapa, puderam ser condutores do povo para bênção do próprio povo. A presença de determinada pessoa num grupo pode ser deter­minante, tanto para o bem como para o mal. Sua presença pode fazer que ninguém se atreva a dizer coisa alguma ou, se o tipo for um animador que abusa de palavras levianas, o ambiente pode se degradar e degenerar rapidamente.

Quanta importância também tem o comportamento: os valores, as prioridades na vida! O apóstolo aponta os macedô­nios, os quais "deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor" (2 Coríntios 8:5). Sem que soubessem, foram por isso exemplo para seus irmãos.

O Senhor Jesus é para nós exemplo de disponibilidade. Ele recebe Nicodemos durante a noite. No poço de Sicar, em pleno dia, começa a falar do cântaro e da água para chegar à adoração. Enfim, dedica-se a uma mulher samaritana de conduta duvidosa, e ela é conduzida à fé (João 3:2; 4:5-30, 39-42).

E o que dizer do resplendor que freqüentem ente se desprende dos fiéis mais humildes? Estes, como aqueles do passado, "andam com Deus".

Quanto estorvo, por outro lado, acarreta a maledicência! Insinuar com malícia, imitar um servo de Deus, piscar os olhos de modo zombeteiro, tudo isso pode muitas vezes desanimar os jovens crentes ou os enviados do Senhor. A mesma ocasião poderia ser empregada para promover justamente o contrário, ou seja, a alegria e o progresso espiritual dos irmãos.

1 Tessalonicenses 5:11 nos diz: "Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciproca­mente". Não se trata aqui das reuniões na igreja, mas de valer­-se dos contatos pessoais do dia-a-dia para animar uns aos outros na fé.

Hebreus 12:12 nos conclama a restabelecer" as mãos descaídas e os joelhos trôpegos". Quem sabe essas mãos eram antes ativas, mas, por motivos diversos, veio o desânimo, não houve renovação interior suficiente (2 Coríntios 4: 16) e o zelo de outrora se apagou (2 Timóteo 1 :6a). A caminhada e as orações tornaram-se algo tedioso, os joelhos estão fraquejando e têm necessidade de ser firmados novamente. Melhor que as palavras, será o exemplo: "Fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado" (Hebreus 12:13).

Resta o âmbito material. 1 João 3:17 nos diz: "Aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?". Não se trata aqui de ajudar a todos sem discernimento. A instrução diz respeito a um dever cristão: ajudar o meu irmão nas necessidades que conheço e segundo os meus recursos. 2 Coríntios 8:12 especifica: "Conforme o que o homem tem" . O próprio Senhor Jesus disse: "Mais bem­-aventurado é dar que receber" (Atos 20:35). Por isso, Hebreus 13:16, imediatamente depois das expressões de adoração do versículo 15, nos fala da ajuda aos nossos irmãos e do compartilhar os bens para sustentar os servos do Senhor (veja 1 Coríntios 16:1-3; 1 Timóteo 5:17-18). A palavra "sacrifício" se aplica tanto ao louvor como à dádiva. 2 Coríntios 9: 7 acrescenta: "Porque Deus ama a quem dá com alegria".

Entre os estorvos, mencio­naremos ainda o mundanismo. Inimigo de nossa vida espiritual, pode ser também uma armadilha para os demais, sem falar dos desejos que pode suscitar. 1 Pedro 3: 3-4 insiste na questão do adorno externo: "Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus". 1 Coríntios 15:33 nos adverte contra as companhias mundanas: "As más conversações corrompem os bons costumes". Recordemos que "a amizade do mundo é inimiga de Deus" (Tiago 4:4).

Logo chegará o dia em que seremos chamados a fazer o balanço de nossa juventude, da idade ativa e da idade amadurecida: que fruto haverá para o Senhor? Tudo virá à tona no tribunal de Cristo. Esse momento ainda não chegou, mas será que temos o desejo de permitir que a luz desse dia ilumine desde já a nossa vida e nos conduza, por um lado, à confissão e, por outro, ao arrependimento? Os pecados confessados no momento em que tomamos consciência deles são purificados pela obra de Cristo{l João 1:9). E o fruto que o Espírito tiver produzido por graça só fortalecerá o sentimento de que, apesar de não termos nada em nós mesmos, temos tudo no Senhor.

 

G. André

 

A Assembleia