A FAMÍLIA SEGUNDO O PLANO DE DEUS

A FAMÍLIA SEGUNDO O PLANO DE DEUS

Introdução

Quando nos casamos, minha esposa e eu, como tantos outros casais, recebemos muitas mensagens de felicidades. Num dos cartões, lia-se: "O casamento é uma bendita instituição que Deus nos preservou do paraíso". Depois de quase sessenta anos de vida conjugal e familiar, continuo a confirmar a veracidade desta declaração.
Contudo, também aprendi - e pude observar nos outros ­que essa bênção não é automática, nem tem garantia duradoura sem que se observem algumas condições. Vivemos num mundo pecaminoso, do qual Satanás é o príncipe. Nesta sociedade estão atuantes toda classe de forças contrárias que instigam nossa natureza pecaminosa e tendem a destruirá vida familiar, causando muitos males. Em minha longa experiência de ensino, seja como professor, seja na obra de evangelização, seja no trabalho missionário, tanto em meu país como no exterior, fui defrontado com muitos problemas familiares. Naturalmente, também li muito sobre o tema. Quando visitava os lares, quando expunha a Palavra nas reuniões ou em conferências sobre o assunto, tinha de responder a muitas perguntas que me eram feitas.

A resposta para os problemas conjugais e familiares de nosso tempo tem de ser procurada na Bíblia. E não somente no Novo Testamento, pois o Antigo Testamento também proporciona muito esclarecimento sobre esse tema. Obviamente, as famílias descritas na Palavra de Deus viviam em épocas e condições muito distintas da nossa. Os usos e costumes eram diferentes. Não podemos simplesmente transportar certas maneiras de agir para o modelo cultural de nossa sociedade, menos ainda aplicá-las ao pé da letra. Ademais, as famílias que nos são apresentadas na Bíblia nem sempre são exemplares.

 

A Bíblia é um livro verdadeiro.

Por meio dela, Deus chama nossa atenção tanto para as atitudes pecaminosas que podem ocorrer na vida familiar como para as boas. Assim também, quanto a este assunto, se aplica o que o apóstolo Paulo disse em 1 Coríntios 10:11:

"Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa".

Ao estudar este tema, reparei outra vez como as muitas instruções desse velho livro são ainda bem atuais. Nem poderia ser diferente, visto que foi o próprio Deus quem no-lo deu. A Bíblia é para todos os homens, de todas as épocas e de todos os países.

A natureza humana continua a mesma desde o primeiro casal, depois da queda. Todos os homens têm as mesmas tendências pecaminosas capazes de conduzir aos mesmos extravios. Além disso, Satanás ainda é o grande sedutor e homicida, como tem sido desde o princípio (João 8:44). Sempre busca corromper o que Deus dá ao homem para bênção. Isto se aplica particularmente à vida conjugal e familiar.

Creio que estas considerações farão o leitor compreender a intenção desta série de artigos. Não existe a pretensão de abordar diretamente temas como noivado, matrimônio sexualidade, planejamento familiar e educação dos filhos. O propósito é apresentar uma série de famílias descritas na Bíblia e, contemplando-as, tirar lições importantes para a vida familiar de nosso tempo. Dessa forma, as considerações referentes à vida conjugal e familiar virão espontaneamente .

As perguntas propostas no final de cada estudo são para instigar estudo pessoal e aprofundamento no tema. Talvez possam também estimular conversas em família ou, mesmo, servir de referência para grupos de estudo bíblico.

 

1 – Adão e Eva e seus filhos - (Gênesis 3 e 4)
A primeira família que encontramos na Bíblia é a de Adão e Eva. Eles tiveram filhos e filhas (Gênesis 5:4). Não se sabe quantos filhos tiveram, mas os nomes de três deles são conhecidos: Caim, Abel e Sete.

Primeiro Deus criou a terra e preparou-a como morada para o homem. Por fim, para completar sua obra, criou Adão. Formou-o do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida. Desse modo, o homem passou a ser alma vivente. Deus o fez habitar num lindo lugar, o jardim do Éden. Sua tarefa era cultivá-lo e guardá-lo (2: 15).

Deus lhe deu autoridade sobre tudo o que havia criado. Adão deu nome a todos os animais, evidenciando assim a autoridade que Deus lhe dera. Observou os animais, o vínculo entre macho e fêmea, como Deus os havia criado. Então sentiu uma grande solidão: "Não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea" (2:20).

Contudo, antes de Adão dar--se conta desta necessidade, Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (2: 18). O mesmo Deus criador pôs esse desejo no coração de Adão e Ele mesmo desejava suprir esse anseio.

Depois de fazer cair pesado sono sobre Adão, Deus tirou­-lhe uma costela, da qual formou a mulher e apresentou a Adão. Como Adão deve ter ficado agradecido quando recebeu a mulher das mãos de Deus! É uma alegria que, desde então, tem-se repetido no coração de milhares de casais que Deus uniu em mútuo amor.

Adão sabia que Deus havia formado a mulher dele mesmo. Ela era verdadeiramente de sua própria carne. O fato de Deus ter usado uma costela de Adão não é insignificante. Vejam a observação que consta no Talmude dos judeus: "Deus não fez a mulher da cabeça de Adão para que o governasse, tampouco de seus pés para que a pisoteasse, mas, sim, de uma costela, próxima de seu coração, para que a amasse. Desse modo, Adão e Eva vieram a ser marido e mulher, uma só carne".

Esse fato mostra um ensinamento profético que mais tarde foi revelado por Paulo:

"Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja" (Efésios 5:25-32). A luz desses versículos, vemos claramente que cada casal deve ser uma representação real da relação entre Cristo e a igreja. Qualquer desvio, como poligamia, infidelidade conjugal e divórcio, está em contradição com o que Deus estabeleceu na criação. Mais tarde voltaremos a falar sobre isso.

O primeiro casal vivia em completa harmonia. Não se envergonhavam um do outro. Quando notavam a presença de Deus no jardim, não temiam. Nem mesmo perguntavam quem dos dois era o líder. Deus estabeleceu as regras da relação de autoridade entre homem e mulher apenas quando a queda pelo pecado fez isso necessário. Adão podia compartilhar com sua esposa a tarefa de dominar. Juntos cumpriam a ordem:

"Multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:28). Também juntos exerciam a tarefa de cultivar e guardar o jardim.

Toda bênção que Deus dá ao homem é sempre acompanhada de uma responsabilidade. Esse também era o caso de Adão e Eva. Não só tinham de cultivar o jardim, mas também deviam guardá-lo. Isso só era possível num caminho de obediência para com Deus, não comendo da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois do contrário morreriam (2: 15-17). Sabemos como Satanás conseguiu tentar Eva e fazer que ela desobedecesse a Deus. Em sua queda, arrastou a seu marido.

Não guardaram o jardim, logo, não podiam mais cultivá-lo e foram expulsos do Éden. Perderam o paraíso para sempre. Além disso, por causa da desobediência, colocaram toda a criação debaixo da influência e do poder de Satanás, do pecado e da morte. 

Quão grandes foram as mudanças que o pecado trouxe a esse casal, mudanças essas que se estenderam a toda a humanidade (Romanos 5: 12). Uma vida feliz em comunhão com Deus e um com o outro se transformou numa vida de medo e vergonha. Quando deram conta de sua nudez, coseram para si vestes de folhas de figueira, as quais Deus substituiu por pele de animais. Não há dúvida de que esse ato de Deus é uma alusão à reconciliação. Aqui, por meio do sacrifício de uma animal inocente, Deus já estava querendo dar a entender que o homem só podia subsistir perante Ele mediante a morte de um substituto.

No paraíso, o trabalho era uma bênção de puro gozo. Mas fora do jardim, a terra produzia cardos e abrolhos. Adão tinha de cultivá-la com trabalho dificultoso, e no suor do rosto comer seu pão. Deus chamou a todos os que tiveram parte nesse primeiro pecado para Lhe prestarem conta. Cada um recebeu a sua própria sentença:

Satanás, a serpente, Adão e Eva.

Constatamos também que ocorreu uma grande mudança na relação desse casal. É certo que 1 Timóteo 2: 13 e 1 Coríntios 11:8-9, passagens que dizem respeito à posição do homem e da mulher, indicam que o primeiro lugar de Adão ­o de cabeça - já fora estabelecido na ordem divina da criação. Mas foi só depois da queda que Deus disse a Eva: "O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará" (Gênesis 3: 16). Essa não era a relação entre eles antes do pecado. Felizmente Adão não recebeu a ordem de mandar em sua esposa (atentemos bem para isso!). Mas à Eva foi dito claramente que seu lugar seria de subordinação a seu marido.

Muitas vezes se diz que essa relação de subordinação foi abolida pelo evangelho e não tem mais validade. Homens e mulheres estão agora equiparados na sociedade, logo, também no lar e na igreja. Cita-se Gálatas 3:28 (V.R.): "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Quem não é afeiçoado à idéia de emancipação da mulher é tido como quem comete discriminação e, aos olhos de muitos, parece estar cometendo o pior pecado.

Quando se faz referência ao que Paulo disse sobre isso em outra passagem do Novo Testamento, a objeção é refutada com o argumento de que se trata de um ponto de vista de Paulo, talvez bom e aceitável naquele tempo, mas arcaico e inviável para nossos dias. Entretanto, os cristãos espirituais, que conhecem a Bíblia e a amam, sabem que os escritos de Paulo são os mandamentos do Senhor (1 Coríntios 14:34-37). O que se diz com respeito à posição da mulher no lar? "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido" (Efésios 5:22-24). Esses versículos são dirigidos às mulheres, não aos homens. Se alguma irmã porventura tiver dificuldade para obedecer a essas instruções, é um conselho meu que leiam várias vezes a passagem. Os homens não precisam fazer isso. Geralmente estão bem convencidos dessa verdade. Conhecem muito bem o teor da exortação: "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido". Mas isto não lhes dá o direito de interpretar o versículo como se dissesse:

"Maridos, mantende vossas mulheres em sujeição". A instrução aos maridos está na seqüência da passagem que acabei de citar: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (v. 25). Amar a sua esposa é bem diferente de governá-la!

Certa vez visitei um casal cuja relação estava muito longe do ideal. Quando cheguei o marido ainda não estava em casa. A esposa me recebeu e, passado um tempo, começou uma longa lista de queixas contra o marido. Era quase interminável. Durante algum tempo escutei em silêncio. Mas depois comentei que, ao que parecia, ela tinha um marido desobediente à Palavra de Deus. "Pode-se dizer que sim", respondeu ela, "Nunca ouço dele nenhuma palavra de apreciação ou de carinho." Peguei minha Bíblia, busquei a primeira epístola de Pedro 3:1-2 e li: "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor". São versículos que ela conhecia bem. Quando lhe perguntei se tinha posto em prática esse conselho de Pedro, respondeu-me com franqueza que não: "Devo confessar que muitas vezes, quando ele se conduziu indevidamente, eu lhe respondi com palavras duras". Ela admitiu que essa talvez fosse a razão de não lograr exercer boa influência sobre o marido.

Naquele momento, nossa conversa foi interrompida pela chegada do marido. Ele viu a Bíblia aberta e o rosto da esposa inchado pelo choro e entendeu o que estava acontecendo. De fato, a relação entre eles não era como devia ser. Ele prontamente confessou isso.

No decorrer da conversa lemos o sétimo versículo desse mesmo capítulo: "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações" . O homem se queixou: "Como alguém pode amar uma mulher que não quer saber de sujeição, sempre é rebelde e quer fazer a vez de chefe?" E a esposa reagiu:

"Como uma esposa pode se sujeitar a um marido que nunca demonstra apreciação ou carinho? Ninguém suporta isso!". Por fim, aconselhei os dois a trocar urgentemente os textos bíblicos. Que a mulher lesse e praticasse o que estava escrito para ela, e o marido levasse a sério o que estava escrito para ele.

Não é esse um problema generalizado entre os cristãos: atentar para o que o outro deve fazer? Somos mais propensos a atentar para os outros e criticá-los que a aplicar a Palavra de Deus a nós mesmos.

Os versículos citados lançam uma clara luz sobre as relações entre marido e mulher no matrimônio e no lar. Quanto à Igreja, o lugar assinalado para homens e mulheres também não é o mesmo. O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo com o propósito de instruí-lo "como se deve proceder na casa de Deus, que é a Igreja" (1 Timóteo 3: 15). Disse: "A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio" (1 Timóteo 2: 11-12).

Em 1 Coríntios 14:34, o apóstolo diz: "Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina". O que Paulo escreveu é um mandamento do Senhor, a cabeça da Igreja.

Noutro tempo não se suscitava a questão de ordenar uma mulher para o ministério, porque os versículos que lemos há pouco eram tidos como suficientemente claros e aceitos por sua autoridade. É triste verificar que hoje em dia, em geral, a ocorrência de mulheres exercendo o ministério nem mais se questiona. Por acaso encontraram uma melhor explicação para essas passagens? Impossível, pois não dão margens a duas interpretações! Não, argumentaram simplesmente que esses conceitos estão arcaicos. Seriam meros pontos de vista do apóstolo Paulo, aplicáveis àquele tempo, obsoletos para a época atual. Com essa forma de argumentar, as Escrituras são privadas de sua autoridade e simplesmente postas de lado. Aliás, é bem isso que tem acontecido com muitas outras verdades bíblicas, mas não quero me delongar nisso agora.

No tocante ao lugar da mulher na Igreja, os versículos apresentados são suficientes para toda mulher que queira submeter­-se à autoridade das Escrituras. O serviço público na Igreja é uma área para a qual o Senhor, que é o cabeça da Igreja, chamou o homem. Para ele há numerosas instruções como exercer esse serviço. A mulher foi chamada para outras tarefas, e isso não significa que ela tenha lugar inferior diante do Senhor. Eram mulheres que serviam ao Senhor com seus bens. Foi a mulheres que o Senhor se apresentou primeiro, após a ressurreição. Foram mulheres quem Ele incumbiu de transmitir aos irmãos a grande notícia de Sua ressurreição. Mulheres lutaram junto com Paulo em prol do evangelho. O homem e a mulher têm cada um o seu próprio lugar, tanto no lar como na Igreja.

Gênesis 4 começa comunicando que Adão e Eva coabitaram. A relação sexual entre os cônjuges é uma bênção especial de Deus, na qual não há nada pecaminoso nem sujo. É um prazer e privilégio que Deus associou ao matrimônio. Isso pode ser constatado na instituição do matrimônio, quando Deus disse: "Estes dois serão 'uma só carne'" (Gn 2:24). Deus implantou o instinto sexual nos animais para perpetuação da espécie. Este também é o propósito de Deus para o homem. Deus disse a Adão e Eva: "Sede fecundos, multiplicai­-vos" (Gn 1:28). A bênção dos filhos é uma fonte de grande alegria no matrimônio. E a ordem para gerar filhos continua vigente nos dias de hoje. Pode-se dizer que esse é o único mandamento que o gênero humano têm obedecido voluntariamente, em qualquer lugar. É uma conseqüência da atividade sexual. Embora, no tocante à sexualidade, Deus tenha dado ao homem muito mais que aos animais, dotando-o de compreensão e do amor controlado pela razão. Quando falta esse controle, o homem se rebaixa ao nível do instinto animal. 1 Coríntios 7:3-5 nos dá claras instruções de como viver a sexualidade no casamento: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência".

Vimos que Deus deu ao homem e à mulher uma posição distinta em certas áreas da vida. As epístolas de Paulo também apresentam isso. Por isso, é tanto mais notável verificar que neste caso ambos os parceiros são contemplados com igual posição e igual direito. Esse é um aspecto muito importante para a vida sexual. Outro ensino importante é que os parceiros não devem ter em vista a sua própria satisfação, mas devem almejar a felicidade do outro. A meta no matrimônio não deve ser obter o máximo proveito possível, mas dar o mais que se possa. Se esses princípios forem respeitados, é possível viver por muitos anos um casamento prazeroso e harmonioso, mesmo no aspecto físico. Os laços do amor desse modo se reforçam. Por outro lado, a desconsideração desses princípios é a causa do fracasso de muitos matrimônios. O amor se esfria até que, por fim, um fica alheio ao outro; e o resultado muitas vezes é desastroso.

Muitos irmãos supõem, e até ensinam, que o celibato (ou a abstinência sexual dos casados) é indicador de um nível mais elevado de espiritualidade no crente. Isso é um erro. O próprio Senhor Jesus ensinou de forma diferente, e demonstrou isso chamando homens casados para apóstolos (1 Coríntios 9:5). Deus só aprova que alguém abra mão do matrimônio quando o fizer voluntariamente em prol do Reino de Deus. Poucos são qualificados com esse dom especial. Paulo também ensinou isso (1 Coríntios 7:32) e se opôs firmemente aos que proibiam o matrimônio (1 Timóteo 4:3). A exigência do celibato, que mais tarde foi instituída na igreja romana, não tem nenhuma base bíblica. A história eclesiástica provou que as pessoas não são capazes de viver uma vida casta quando isso lhes é imposto. Que ninguém se subestime nesse assunto. Não é o desejo em si mesmo o que caracteriza o pecado - aquilo que Paulo chama de "viver abrasado" -, mas o fato de buscar satisfação sexual fora do casamento.

Os coríntios escreveram a Paulo fazendo muitas perguntas, entre elas, várias a respeito do casamento. A resposta do apóstolo dá a entender que, dentro da esfera do matrimônio, Deus concedeu um lugar aos impulsos sexuais. Ceder a esses impulsos fora dessa esfera, caracteriza a "prostituição" ou o "adultério", e é condenado como pecado. É bom e absolutamente necessário que os crentes atentem para essa norma. Em nosso país, dito cristão, isso foi, nas gerações passadas, de certa forma levado em conta na formulação das leis. Hoje em dia, muitos não querem mais saber desse princípio divino. As relações sexuais fora do casamento são aprovadas e, muitas vezes, até publicamente propagadas.

Também       as      relações homossexuais recebem apro­vação. Muitos até querem que essa forma de convivência seja reconhecida por lei. Os que têm a coragem de protestar publicamente contra tais práticas são tachados de antiquados e tapados. Devem ser punidos por discriminação, dizem alguns. Pensam esses que poderíamos nos desenvolver melhor e viver mais felizes sem essas normas bíblicas. E esse pensamento não é tão novo quanto parece. É a mesma velha mentira de Satanás no paraíso: "No dia em que [ ...      ] comerdes [o fruto proibido ... ] como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (Gênesis 3:5). É uma meia-verdade, e geralmente uma meia-verdade é pior que uma mentira inteira. O diabo deixou de mencionar que, com esse conhecimento, o homem não mais seria capaz de deixar o mal, nem tampouco de fazer o bem. Abolir as normas de Deus nunca fez o homem mais feliz, nem jamais fará. Que sociedade desventurada é esta de hoje, que cada vez mais se afasta de Deus!

O primeiro filho de Adão e Eva foi Caim. Depois nasceu Abel. Eles não "fizeram" filhos, como às vezes se diz hoje em dia. Filhos devem ser vistos pelos pais como dom de Deus. Estes, portanto, também devem ser criados para Deus. Eva reconheceu no filho que lhe nascera uma bênção de Deus. Ao criar filhos, os pais muitas vezes experimentam bastante alegria, muitas vezes também, preocupação e tristeza. E o mesmo se deu com os primeiros pais.

O filósofo Rousseau afirmou que as crianças são como um papel em branco. Uma vez que o educador saiba evitar qualquer má influência sobre ela, poderá escrever o que quiser sobre essa "folha em branco". Todavia, o relato da primeira família nos ensina algo diferente. As influências exteriores não desempenharam nenhum papel na criação dos filhos do primeiro casal. O que de fato pesou no caso de Caim foi a natureza pecaminosa que recebera desde o nascimento. Seus pais provavelmente tiveram muita preocupação e tristeza por causa dele. A elevada expectativa de Eva resultou em grande desilusão.

Caim era religioso. Foi ele que ofereceu o primeiro sacrifício a Deus. Mas, ao contrário de seu irmão, ele não entendeu nada do fundamento sobre o qual um pecador pode subsistir perante Deus e se aproximar dEle. Abel também ofereceu um sacrifício, mas os sacrifícios dos irmãos foram diferentes. Se alguém ler a Bíblia superficial­mente, poderá supor que a causa disso estava na diferença de seus ofícios. Caim, agricultor, ofereceu a Deus um sacrifício dos frutos da terra, e Abel, pastor, ofereceu a primogênita de suas ovelhas. Pode parecer natural. Mas, se pensarmos assim, perderemos a grande lição concernente à reconciliação que essa história encerra. Em Hebreus 11:4 lemos: "Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala".

Há uma grande diferença entre esses dois homens: Abel tinha fé e, fundamentado nessa fé, ofereceu sacrifício. Hebreus diz que ele ofereceu um sacrifício "mais excelente", um sacrifício de sangue, dando a entender que reconhecia sua culpabilidade diante de Deus. Ele cria em Deus e que este lhe aceitaria o sacrifício em seu lugar. O sacrifício de Caim evidenciava um rito religioso constituído segundo a vontade própria: ofereceu frutos da terra - da mesma forma que seu pais, que, depois de caírem no pecado, pensavam poder vestir-se perante de Deus com folhas de figueira produzidas por uma terra maldita. As peles com as quais Deus os vestiu ensinavam de maneira figurada que o pecador só pode aproximar-se de Deus em virtude do sacrifício de um substituto executado no lugar deles. Adão e Eva tiveram de aprender essa lição e, sem dúvida alguma, também a ensinaram a seus filhos, mas Caim não a compreendeu. Razão pela qual lemos que Deus não se agradou "de Caim e de sua oferta" {Gênesis 4:5}. Outra coisa que notamos aqui é que, nessas duas ofertas, Deus relaciona o ofertante com sua oferta.

Adão e Eva podiam contar a seus filhos os grandes feitos de Deus e compartilhar com eles os ensinamentos que eles próprios haviam recebido de Deus. Mas não estava ao alcance deles convertê-los nem induzi­-Ios à fé. Isso é algo que só Deus pode fazer, mediante a operação do Espírito Santo.

O mesmo também se aplica aos pais da atualidade. Temos de estar profundamente cientes de nossa grande responsabilidade como pais e, ao mesmo tempo, convencidos da nossa completa incapacidade. Isso nos levará à oração. Rendamos graças a Deus pelos filhos que se convertem e evidenciam a verdadeira fé. Sigamos orando pelos que continuam demonstrando desinteresse.

Quando Caim viu que Deus rejeitara sua oferta, irou-se grandemente contra seu irmão e finalmente o assassinou. Por quê? O apóstolo João dá a resposta: "Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas" {I João 3: 12}.

Não obstante, Deus também amava Caim, assim como ama a todos os pecadores. Não quer que o pecador pereça, mas que se converta e seja salvo {veja 2 Pedro 3:9; 1 Timóteo 2:3-4}. Por isso advertiu Caim antes de este consumar o ato deplorável. Posteriormente, quando Deus lhe anunciou o castigo, Caim reconheceu a gravidade de seu pecado. Teria sido arrependi­mento sincero? Ou ele teria ficado impressionado com os terríveis resultados de sua maldade? Quanto a isso, só podemos fazer suposições.

Caim foi desterrado. Antes de se retirar, Deus pôs sobre ele um sinal para que qualquer que o encontrasse não o ferisse de morte. Até no juízo pronunciado sobre Caim vemos a misericórdia de Deus. A expressão quem quer que o encontrasse" (Gênesis 4: 15) é óbvia referência aos outros filhos de Adão e Eva. Alguns provavelmente já haviam-se casado com uma das irmãs. O próprio Caim tomou uma irmã por mulher.

No lugar de Abel, Deus deu outro filho a Adão e Eva: Sete.

Gênesis 5 nos fala dele e de sua descendência, é um capítulo que termina com Noé, cuja família vamos considerar numa próxima ocasião. A descendência de Caim nos é relatada no capítulo 4. Dessa linhagem destaca-se Lameque e seu lar. É deles que trataremos no próximo estudo.

Perguntas para estudo:

  1. Que princípios sobre o matrimônio encontramos em Gênesis 2:24?
  2. Como Satanás conseguiu fazer que os primeiros homens pecassem (Lucas 4: 1-13 e 1 João 2: 16)?
  3. No que consistiu a condenação de Satanás, a serpente, e a de Adão e de Eva (Gênesis 3:14-19)?
  4. Em Gênesis 3:7 e 21 notamos que o homem não pode agradar a Deus com suas próprias obras. O que dizem as passagens de Romanos 3:28 e Efésios 2:8-9 a esse respeito?
  5. Como Deus regulamentou a relação entre o homem e a mulher (leia Malaquias 2:14-16; Efésios 5:22-23; 1 Pedro 3:1-7)?
  6. Que importância tem a sexualidade? No que diz respeito à sexualidade, qual é a diferença entre o homem e os animais (leia Gênesis 1:28; 2:24; 1 Coríntios 7:3-5)?
  7. Qual a diferença entre Caim e Abel (leia Hebreus 11:4 e 1 João 3: 12)?

Essas perguntas são para instigar estudo pessoal é aprofundamento no tema.

As respostas NÃO devem ser encaminhadas à realidade de Leituras Cristãs.

 

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